Marcelo Rebelo de Sousa conduz todos os seus passos na firme convicção de que a alegria e a felicidade são sentimentos contagiosos.
Não há cara fechada que o assuste - e foram algumas com que se cruzou, nesta jornada de seis dias por sete ilhas dos Açores. Uma jornada que só pecou - e o próprio queixou-se disso várias vezes, como se não fosse ele a estabelecer o programa final - por ser demasiado curta e demasiado acelerada. "Vamos estugar o passo", dizia, volta não volta, manifestamente divertido com o cansaço que provoca não só nos jornalistas que o seguem como até no seu próprio "staff" (na Ilha Terceira, enquanto descia a pé - a galope, claro - do Monte Brasil para o centro de Angra, chegou mesmo a afirmar, com gargalhadas de todos em volta, que o seu objetivo é "hospitalizar" metade dos seus colaboradores no espaço de metade do seu mandato). Com um programa que antes de o ser teve mais de uma dezena de versões, Marcelo parou nas capelinhas todas que tinha necessariamente de parar: no Pico viu vinhas e falou com baleeiros; na Graciosa almoçou com pescadores e visitou uma fábrica de queijadas; na Terceira esteve nas Lajes; em S. Jorge visitou uma fábrica de queijos; nas Flores foi a um miradouro olha para o Ilhéu de Monchique, o ponto mais ocidental da Europa.
A alegria e boa disposição que põe em tudo o que faz não resulta, apenas, de uma questão de feitio - ou de Marcelo estar verdadeiramente contente por ser Presidente (não se pode dizer que antes de chegar a Belém a carreira política lhe tenha corrido muito bem). É também um programa político, pensado - e portanto teorizável. Foi o que fez anteontem, conversando com jornalistas, enquanto percorria a marginal da Horta depois de um "gin" no incontornável "Peter", a caminho de um jantar com as "forças vivas" da ilha do Faial, na belíssima pousada do Forte de Santa Cruz, com o majestoso Pico em fundo, num fim de tarde glorioso. (A meteorologia, aliás - uma verdadeira obsessão açoriana - ajudou, até quando o céu se enevoou, obrigando a comitiva a chegar de barco ao Faial, a partir do Pico, num trajeto que não estava previsto e que Marcelo, claro, viu como uma experiência "vivida" de insularidade).
Para ele, "a mera viragem psicológica, que passou pelo universo dos afetos, foi uma viragem política fundamental". O pais "estava perdido" e "carecido de afeto". "Quando iniciei o meu mandato, eu achava que o país estava carecido de afeto, e que era uma prioridade esse afeto. As pessoas estavam pessimistas, estavam céticas, estavam crispadas. Como dizia há bocadinho aí um senhor que me cumprimentou: ia acabar no dia seguinte, o país estava perdido, corria tudo mal." E hoje - prosseguiu, num retrato pela negativa que assenta como uma luva na figura de Pedro Passos Coelho ou do seu antecessor, Cavaco Silva - "é impossível fazer política na base apenas da cabeça". "Há políticos que entendem que é assim", mas "não estão a ver toda a realidade da política". A pergunta que deu início à conversa foi se não tinha havido afeto demais e política de menos nesta viagem. Resposta: "Acha que o afeto não tem um sentido político? Tem!." Portanto, é isto que explica que o Presidente tenha, por exemplo, cumprimentado um por um todos os três mil idosos (números de Vasco Cordeiro) que almoçaram com ele sopas do Dívino Espírito Santo e alcatra (uma espécie de chanfana) na Praia da Vitória (Ilha Terceira).