O historiador norte-americano Timothy Snyder, autor do livro "Terra Negra", sobre o nazismo e o Holocausto, disse que Hitler deve ser visto como um "anarquista-ecológico".
"Ideologicamente, caracterizo Hitler como um anarquista-ecológico. A visão que tinha do mundo era a de que os recursos económicos: as terras e os alimentos de que todos precisam estavam divididos entre raças, assim como os animais estão divididos entre espécies. A verdade e a realidade passa a ser a luta pelos recursos naturais", disse Snyder sublinhando que a lógica de Hitler era complexa e "monstruosa" mas que não se limitava à perseguição racial.
Segundo Snyder, o ditador nazi acreditava que o comunismo, o capitalismo ou o cristianismo ou mesmo os avanços científicos e tecnológicos eram "males" provocados pelos judeus, defendendo como solução para a Alemanha a expansão colonial através da criação de um "espaço vital" ("lebensraum"), sobretudo na Ucrânia, inspirado na presença de europeus no continente africano ou na "conquista" do oeste norte-americano no século XIX.
"O que eu proponho com o livro é tratar Hitler como uma figura à escala global que imaginava a Alemanha como uma potência global, comparável ao Reino Unido e aos Estados Unidos. Para o conseguir a Alemanha tinha de travar uma guerra na Europa e transformar o leste europeu numa colónia gigante de Berlim que - para Hitler - devia ser parecida como os Estados Unidos", defende o historiador sobretudo com base em novas interpretações do livro "Mein Kampf" ("A Minha Luta").
Segundo Snyder, Hitler não tinha um plano específico para a guerra e, por isso, improvisava, sendo que quando que se deparava com problemas complexos destruía os estados e as instituições.
"O que encontramos não se trata de uma situação militar ou diplomática convencional em que se organiza uma batalha ou se assina um tratado fronteiriço. A Áustria e a Checoslováquia desapareceram e depois, durante a guerra, a Polónia também desapareceu do mapa. Cada vez que as forças alemãs eram lançadas em campanha nestas situações de anarquia no estrangeiro os judeus eram assassinados em grande número", refere Timothy Snyder.
Para o autor de "Terra Negra", que vai ser lançado este mês em Portugal, o Holocausto começou com a repressão contra os judeus na Alemanha tendo avançado rapidamente a par com os massacres de outros povos sempre que as forças alemãs avançavam para zonas que se tinham tornado "anárquicas".