BBC exibe documentário que expõe a relação do antigo pontífice com mulheres e levanta suspeitas sobre o celibato. Santa Sé distancia-se.
Um documentário sobre a vida emocional de João Paulo II, a ser exibido esta noite, no espaço "Panorama", na BBC, promete ensombrar a história do antigo pontífice. A investigação jornalística mergulhou na correspondência privada das polacas Anna-Teresa Tymieniecka e Wanda Poltawska com o mais destacado líder da Igreja Católica.
O anúncio ao programa da televisão inglesa não deixa claro se será questionado o celibato de uma figura que marcou o século XX, ao explorar a relação com as duas mulheres. Mas a Santa Sé já mostrou o seu desconforto e recusou comentar os 30 minutos de "As cartas secretas do Papa João Paulo II".
Segundo a BBC, o pontífice e Anna-Teresa terão tido uma "correspondência febril" na década de 1970, quando trabalharam num tratado sobre filosofia. E será essa pilha de cartas que se vai revelar.
João Paulo II era ainda conhecido como cardeal Karol Wojtyla e, tal como a sua correspondente, estava na casa dos 50 anos. Já Anna-Teresa era uma académica, oriunda de uma família aristocrata polaca, que só viria a casar em 1995 com um professor de Economia de Harvard, Hendrik Houthakker. Mesmo depois do casamento, a filósofa, que faleceu há dois anos, manteria contacto com João Paulo II, convidando-o várias vezes para se deslocar à sua casa em Vermont (Estados Unidos), de acordo com a edição online do jornal britânico "The Guardian".
Ao jornalista americano Carl Bernstein, aquando de uma biografia sobre o pontífice, em 1996, Anna-Teresa desmentiu qualquer envolvimento romântico com o Papa, admitindo apenas uma ligação "mutuamente carinhosa". Mas a BBC ouviu agora alguns dos que a rodearam e a leitura diferente que fazem dessa relação.
O documentário foi também atrás de Wanda Poltawska, uma psiquiatra hoje com 94 anos, que abalou a Santa Sé ao publicar, em 2009, as 570 páginas de correspondência íntima com João Paulo II. Numa altura em que se preparava o processo de canonização do pontífice - que morreu em 2005 - ficou a saber-se que o antigo líder do Vaticano se dirigia a Wanda, nas suas cartas, como "minha querida Dusia", assinando como "Br" - abreviação de "brat" (irmão em polaco).