Hemingway pode ser um apelido demasiado pesado para uma jovem com menos de 20 anos. Talvez por isso, quando andava na New York City Ballet School (dos cinco aos quinze anos), Dree apenas respondesse pelo último nome do pai, o realizador Stephen Crisman.
Um dia, ao fim de dez anos de sapatilhas cor-de-rosa, acordou e pensou: «Não sei se consigo respirar mais ballet». Não abandonou totalmente as aulas de dança, mas quis dar os primeiros passos na área da representação. Afinal de contas crescera a assistir às rodagens da mãe, a actriz Mariel Hemingway – conhecida pelo papel de amante novata (tinha apenas 17 anos) de Woody Allen em Manhattan.
Curiosamente, foi através de outro filme do realizador nova-iorquino que Dree se sentiu pela primeira vez perto do bisavô Ernest Hemingway. «Quer dizer, quantas vezes pensam nos vossos bisavôs?», perguntou retoricamente ao Daily Mail, acrescentando que só pensa no seu quando o invocam em entrevistas. «Adoro o Woody Allen e achei que o Meia-Noite em Paris [Ernest Hemigway faz uma aparição] era genial [...]. Foi um choque estar a ver o filme e de repente o meu bisavô [interpretado por Corey Stoll] saltar para a frente do ecrã!».
Quando aos 17 anos foi apresentada ao mundo da moda na revista Teen Vogue, a jovem de pernas longas, cabelo loiro e olhos verdes ainda não era fã do romancista. «Li muitos livros do meu bisavô, não todos. Levei algum tempo a pegar neles, porque pensei: ‘Ah, como estou ligada a ele sou obrigada a gostar, blá blá blá’».
Acabou por cair de amores pela obra do romancista quando leu o livro Paris É uma Festa, sobre as suas memórias da cidade nos anos 20 como membro do círculo de leitores americanos expatriados.
Dree leu-o precisamente antes de viajar para a capital francesa, em 2009, e ali se estrear nas passerelles pela marca Givenchy, já com o apelido Hemingway. Contratada pela agência Elite Models, logo caiu nas graças de outras casas de renome: deu a cara por uma fragrância de Paco Rabanne e desfilou para Gianfranco Ferré, Jean Paul Gaultier e Valentino.
Menina-bonita de alguns dos maiores criadores do meio, a jovem modelo ganhou também seguidores nos blogues de street fashion. Louvam-lhe o estilo blasé, a mistura de peças vintage com marcas de alta costura e outras acesssíveis. Fã de Isabel Marant, John Galliano e Chloe, Dree disse não ter medo de vestir linhas mais masculinas, identificar-se com «tudo o que seja hippie e dos anos 70» e buscar inspiração nas actrizes Katherine Hepburn, em The Philadelphia Story, e Edie Sedgwick, em Ciao Manhattan.
Aos 25 anos, a estrela ascendente criou uma linha de dez peças para a marca francesa Sandro, inspirada num livro de alpinismo dos anos 70, na sua infância passada nas montanhas de Idaho e em fotos antigas de Margaux Hemingway, a tia modelo que acabou por se suicidar em 1996.
E porque o seu objectivo declarado é conciliar a moda com o cinema, marcou presença na última edição do Festival de Locarno, para a apresentação de Starlet, de Sean Baker. No filme faz o papel de uma jovem actriz pornográfica, o que, apesar de algumas sessões fotográficas despudoradas que protagonizou, parece longe de vir a acontecer na realidade. l