Médicos e enfermeiros que transportaram jovens para o hospital confiaram na palavra da polícia e desvalorizaram ferimentos
Quando foram chamados à esquadra da PSP de Alfragide para levar ao hospital jovens da Cova da Moura feridos, os técnicos de emergência médica receberam informação só dos polícias. INEM diz que tem "confiança" nos seus registos
O INEM registou "queda acidental" como causa dos ferimentos dos jovens que foi buscar em 2015 à esquadra da PSP de Alfragide para os transportar ao hospital da Amadora. De acordo com os formulários de entrada na urgência, que fazem parte do processo de investigação judicial que o DN consultou, essa é a causa indicada pelos profissionais de emergência médica quando acompanharam os jovens, entre eles Celso Lopes, que tinha sido atingido com um tiro de bala de borracha na coxa.
Tanto os elementos do INEM como os bombeiros da Amadora, chamados à esquadra no final do dia 5 de fevereiro de 2015, foram ouvidos pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ), que coordenou a investigação titulada pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) da Amadora. Os seus testemunhos, conforme foi possível confirmar no processo, pouco ou nada contribuíram para fundamentar a tese de que os jovens tinham sofrido agressões graves, sido torturados, sequestrados e injuriados com motivação de ódio racial - como concluiu o Ministério Público (MP) na acusação contra todos os 18 polícias que estiveram de serviço naquela esquadra nesse dia. Técnicos de emergência e bombeiros assistiram os jovens ainda na esquadra e disseram aos investigadores que não se aperceberam nem viram ninguém a ser agredido. A informação sobre as quedas acidentais teve origem nos próprios agentes da PSP que ali se encontravam, de acordo com o relato que fizeram ao DIAP e à UNCT.