Hoje e amanhã decorrem exercícios militares que combinam fatores de luta armada e não armada, para "defesa integral da nação"
O quinto mandamento das Unidades de Batalha Bolívar-Chávez (UBCh) é "defender as vitórias da Revolução e combater em qualquer terreno os inimigos da Pátria". Por isso estão a ser recrutados milicianos entre as quase 14 mil UBCh existentes, com o objetivo de garantir a segurança e defender o país do que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente Nicolás Maduro, considera serem ingerências externas. O objetivo é ter 80 mil "companheiros combatentes para enfrentar qualquer circunstância que se apresente", disse o vice-presidente de Segurança e Defesa do PSUV, Luís Reyes Reyes.
"Temos 13 686 mil UBCh o que dará um total de 80 mil companheiros combatentes dispostos para a defesa do país, mas também para a segurança interna, a luta contra a guerra económica e a atuação em situações especiais, como atos de contingência por inundações", explicou Reyes.
A recruta dos milicianos será feita na primeira quinzena de junho, devendo depois começar um período de formação. Os milicianos terão entre 18 e 45 anos e entre eles haverá grupos especiais de atiradores, de engenheiros, de peritos em comunicação e até de operadores de mísseis, entre outros. "Todos somos corresponsáveis pela defesa e segurança, e devemos estar prontos para atuar em qualquer circunstância que se nos apresente", afirmou Reyes numa conferência de imprensa, na terça-feira.
As milícias, ao contrário dos integrantes das comissões estatais de Segurança e Defesa do PSUV, não participam nos exercícios militares que decorrem hoje e amanhã na Venezuela. Segundo o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, os Exercícios Independência 2016 são "únicos pela sua natureza", porque "combinam os fatores de luta armada, defesa nacional" com fatores "de luta não armada consagrada no conceito estratégico militar para a defesa integral da nação".
O anúncio da criação das milícias foi feito antes dos protestos da oposição na quarta-feira, em Caracas, durante os quais alguns manifestantes ultrapassaram as barreiras policiais que tinham sido erguidas para impedir a sua chegada junto dos escritórios da Supremo Tribunal Eleitoral. O objetivo do protesto era exigir a realização do referendo revogatório contra Maduro - as autoridades eleitorais estão a proceder à verificação das 1,85 milhões de assinaturas entregues pela oposição e dizem que só a 31 de maio será entregue o parecer.
"A haver revogatório contra Maduro será só no próximo ano"
A polícia e a Guarda Nacional usaram gás lacrimogéneo contra os manifestantes que saltaram as barreiras, havendo relato de pelo menos sete pessoas detidas por alegadas agressões contra seis membros das forças de segurança. O ministro das Relações Interiores, Gustavo Enrique González, disse que os indivíduos estão "vinculados a organizações violentas com fins políticos" e responsabilizou precisamente a oposição. Acusou-a de "insistir em executar ações violentas distanciadas da via democrática, como parte de uma agenda desestabilizadora, promovida desde fora de fronteiras, através de formas não convencionais de ingerência". Em resposta à violência, Maduro ameaçou elevar o nível do estado de emergência, decretado na segunda-feira.
Situação grave
O diretor para as Américas da Human Rights Watch (HRW), José Miguel Vivanco, considerou ontem que a situação na Venezuela "não pode ser mais grave". Durante a apresentação em Bogotá (Colômbia) do livro "Preso pero libre" do opositor venezuelano Leopoldo López, Vivanco disse que "os factos falam por si e exigem uma atitude clara e firme por parte da comunidade internacional".
A Venezuela enfrenta uma grave crise económica, com desabastecimento de alimentos e medicamentos, uma inflação que a oposição diz que pode chegar aos 600%, além de uma crise energética.