Entre janeiro de 2015 e maio de 2016, o magnata declarou rendimentos de 577 milhões de dólares. A ex-primeira-dama ganhou 1,5 milhões em palestras. Menos do que no ano anterior.
Em março de 2015, menos de um mês antes de anunciar oficialmente a entrada na corrida às presidenciais americanas, Hillary Clinton fazia o seu último discurso pago. A audiência eram os funcionários da eBay e a ex-secretária de Estado recebeu 315 mil dólares (280 mil euros), segundo a declaração de rendimentos que a candidata à nomeação democrata agora divulgou. Ao todo, entre janeiro de 2015 e maio de 2016, a ex-primeira-dama recebeu 1,5 milhões pelos seus discursos, a que se juntam os cinco milhões de lucro das suas memórias Escolhas Difíceis.
A divulgação da campanha de Hillary coincide com o anúncio de Donald Trump de que preencheu a declaração pessoal de rendimento junto da Comissão Federal de Eleições - 104 páginas, a "maior que já se viu", nas palavras do candidato. Apesar de os números ainda não serem oficiais, o New York Times garante que o milionário do imobiliário teve, nos 16 meses em análise, rendimentos de 557 milhões de dólares (493 milhões de euros), sem contar com os dividendos, juros, rendas ou royalities. A campanha de Trump divulgou ainda que este detém uma fortuna de dez mil milhões de dólares (8800 milhões de euros) - quando a Fortune fala em 3,72 mil milhões de dólares e a Forbes em 4,5 mil milhões de dólares.
A campanha de Hillary tem usado o facto de Trump - que depois de ter ficado sem rivais nas primárias é já o presumível nomeado republicano - se mostrar relutante em divulgar a sua declaração de impostos. A equipa da ex-primeira-dama - que ainda disputa com Bernie Sanders a nomeação democrata para as presidenciais de 8 de novembro - garante que as reticências do magnata se prendem com o facto de afinal não ser tão rico como garante ser. De tal forma que os assistentes de Hillary puseram a circular no Twitter a hashtag #PobreDonald.
Numas modestas 11 páginas, a declaração de rendimentos de Hillary e Bill Clinton revela que o ex-presidente continuou a fazer discursos pagos depois de a mulher entrar na corrida à Casa Branca, tendo feito 4,6 milhões de dólares. Um valor que mesmo somado ao da mulher está claramente em queda em relação à declaração anterior do casal Clinton, na qual Bill e Hillary revelaram ter recebido em conjunto 25 milhões de dólares só em discursos.
Vitória dividida
O momento que as campanhas de Hillary e Trump escolheram para revelar os rendimentos dos candidatos não foi um acaso. Na terça--feira à noite, Trump - sem rivais, apesar de estes continuarem no boletim de voto - celebrou a vitória nas primárias do Oregon, em que amealhou mais 17 delegados à convenção de julho em Cleveland, Ohio, que o deve confirmar como candidato republicano em novembro. Mas Hillary dividiu com Sanders as vitórias da noite. O senador do Vermont ganhou no Oregon, obtendo 28 delegados (a rival ficou com 24). A ex-primeira-dama venceu no Kentucky, onde só os democratas foram a votos, conquistando 27 delegados (os mesmos que Sanders).
Apesar da aparente divisão no eleitorado democrata, Sanders não deverá conseguir recuperar o atraso que tem para Hillary em termos de delegados, com o senador a ter neste momento 1528 contra os 2291 da ex-primeira-dama, muito próxima já dos 2383 que lhe garantirão a nomeação na convenção de julho em Filadélfia, na Pensilvânia. Com a única vitória do mês de maio no bolso, Hillary pode agora concentrar-se na próxima minissuperterça-feira. A 7 de junho vão a votos seis estados, entre eles a gigante Califórnia, com os seus 546 delegados. Uma oportunidade para a ex-primeira-dama garantir os delegados necessárias antes da convenção. As sondagens são-lhe favoráveis, com a última da Eyewitness News para a ABC News a dar 57% das intenções de voto à ex-secretária de Estado, contra 38% para o senador do Vermont.
Do lado republicano, já convencido de que não consegue tirar a nomeação a Donald Trump, o aparelho do partido parece agora concentrado em arranjar um candidato disposto a avançar em novembro como independente.
Mitt Romney, o ex-governador do Massachusetts e candidato presidencial derrotado por Barack Obama em 2012, ou o senador do Nebraska Ben Sasse são alguns dos nomes de que se fala para avançar como independente. Mas os analistas não têm qualquer dúvida: um terceiro candidato só iria entregar a vitória de bandeja a Hillary Clinton. E até John McCain, o senador derrotado por Obama em 2008, admite: Trump não seria a sua escolha, mas "os eleitores decidiram" e escolheram o milionário.