Um mês e meio após o congresso do partido, voltam as críticas internas ao líder. Pedro Duarte diz que PSD está rendido à "gestão do dia a dia" e José Eduardo Martins critica inação dos vice-presidentes
Acabou-se o estado de graça pós--congresso: subiram de tom as críticas internas ao líder do PSD. Os ex-vice-presidentes da bancada Pedro Duarte e José Eduardo Martins estão descontentes com a estratégia de Passos Coelho e até se confessam "inquietos". As críticas posicionam-nos para o pós-Passos, mesmo que não seja como líderes.
Pedro Duarte disse na apresentação do livro do "rioista" Rui Nunes - a que DN assistiu - que a "oposição está rendida àquilo que é a gestão do dia-a-dia." O ex-líder da JSD e diretor de campanha de Marcelo nas presidenciais revelou estar "francamente frustrado, desiludido" e "não acomodado"com o facto do PSD não estar "neste momento a preparar uma agenda de futuro e temas estratégicos para o país."
Pedro Duarte sugere assim que a visão crítica de que algo que tinha de mudar na estratégia do partido - que revelou em entrevistas antes e durante o congresso - se mantém. O ex-vice-presidente da bancada garante também que vai manter "viva e acesa" a "inquietude para podermos mudar o estado das coisas".
O antigo deputado defende que "o país está à espera que alguma coisa aconteça" e exige "que quando alguma coisa acontecer haja de facto uma proposta consistente, fundamentada, para reformar o Estado, para reformar o país".
O ex-líder da JSD considera que os partidos, incluindo o PSD, "são estruturas fechadas, sem capacidade de atrair os melhores, sem capacidade de gerar debate nem de gerar discussão interna".
Também José Eduardo Martins critica hoje em declarações ao DN a nova direção do PSD: "Expliquem-me o que é que um mês e meio depois do congresso, a equipa de vice-presidentes do PSD tem protagonizado de combate político".
José Eduardo acusa ainda Passos de se achar "autossuficiente" e de ter uma "grande dificuldade de criar equipas". O antigo vice-presidente da bancada adverte ainda "o PSD não gosta de ser visto como o partido direitolas" e que o partido é muito mais do que um grupo de "bloggers neoliberais".
Quanto à sucessão, José Eduardo Martins diz ter a "noção imodesta de que sou o melhor número dois do mundo", acrescentando: "Falta-me é o número um".
Primárias para legitimar
Durante a apresentação do livro Democracia e Sociedade - na quarta-feira à noite na livra Almedina, no Atrium Saldanha - Pedro Duarte disse também concordar com algumas das ideias de Rui Nunes para o país refletidas na obra, que incluem a introdução de primárias no PSD.
Rui Nunes - que foi também o dinamizador do Fórum Democracia e Sociedade,Uma Agenda para Portugal, que chegou a defender a candidatura de Rio - considera "curto" o facto de Passos ter ganho as diretas com 95% dos votos, acrescentando que é uma "inevitabilidade" a adoção de primárias no PSD.
Para Rui Nunes "desde que o PS avançou para as primárias qualquer líder do PSD que se apresente a votos como candidato a primeiro-ministro sem se submeter a primárias vai sempre diminuído na legitimidade".
Embora defenda primárias como princípio e não como forma de afastar um líder, Rui Nunes já disse várias vezes publicamente que Rui Rio seria um bom candidato à sucessão de Passos Coelho. E quanto ao homem que escolheu para a apresentação do seu livro, Pedro Duarte? "É um jovem quadro e como o PSD se precisa de renovar, devia poder dar o seu contributo para provar se é ou não um bom candidato à liderança".
Passos chamou bancada à Lapa
Outro equilíbrio de forças no PSD é entre a liderança da bancada (Luís Montenegro) e a liderança do partido. O líder parlamentar tem tido agenda própria e - a par do secretário-geral e dos vice-presidentes - os eventos em que participa são publicitados pelo gabinete de comunicação do PSD.
Neste novo quadro, Luís Montenegro ganhou destaque, mas Passos não perde de vista a bancada. Na terça-feira, apurou o DN, o líder do PSD chamou toda a liderança da bancada à sede do PSD, na São Caetano à Lapa, para que todos os vice-presidentes da bancada prestassem esclarecimentos perante a comissão permanente do PSD.
Cada vice-presidente apresentou o trabalho feito na área que lhe compete, havendo troca de opiniões - por vezes divergentes -entre dirigentes da bancada e do partido. Cenário que terá acontecido, segundo fontes presentes, entre Maria Luís Albuquerque (vice-presidente com a área das finanças) e António Leitão Amaro (quem tem o mesmo pelouro no grupo parlamentar).
Já ontem Passos votou diferente de Montenegro e da maioria da bancada na aprovação da Procriação Medicamente Assistida. Para estancar o protagonismo de Montenegro, desta vez, não lhe cedeu a réplica a António Costa. Passos está de volta como figura de proa do PSD. Também no Parlamento.