Stock da Cunha e Sérgio Monteiro vão estar em Nova Iorque para a primeira ronda de contactos. Seguem-se Londres e Boston. A ideia é realizar uma operação de venda de parte minoritária do capital, embora fora do retalho
Na quinta-feira da próxima semana, 31 de março, os interesses da banca portuguesa vão estar sobre a mesa em Nova Iorque. Embora a operação ainda esteja a ser preparada, começará nesse dia o roadshow para venda do Novo Banco. A primeira reunião será na capital financeira americana. Depois, entre 4 e 5 de abril, será a vez de Londres. No dia seguinte, outra vez Nova Iorque; e no dia 7, encerrando este primeiro movimento, o centro dos contactos passa para Boston.
A ideia é juntar 30 a 40 grandes investidores, dando-lhes a conhecer a situação do Novo Banco, o caminho percorrido pela administração liderada por Eduardo Stock da Cunha para limpar o balanço e reestruturar a operação, mas também dar explicações sobre a situação macroeconómica portuguesa.
O CEO do Novo Banco vai fazer-se acompanhar por outros dois administradores, entre eles o responsável pela área financeira - o CFO Francisco Cary e Jorge Cardoso, responsável pelo side bank -, mas nas conversas estará também Sérgio Monteiro, que lidera o fundo de resolução na parte que diz respeito à venda da instituição, além dos novos assessores financeiros que vão ajudar a montar a operação: o Deutsche Bank, em representação do Banco de Portugal/fundo de resolução, e o JP Morgan pelo lado do Novo Banco. A remuneração destas instituições será tornada pública nos próximos dias.
Pelo caminho fica o BNP Paribas, que deixa de assessorar a operação porque, segundo fonte próxima do processo, quer o Deutsche Bank quer o JP Morgan têm mais experiência no mercado de capitais. Ora a intenção de Sérgio Monteiro - coordenado com o governador Carlos Costa - é pôr de pé, o mais tardar até julho, uma espécie de IPO (oferta pública de venda), embora dirigida apenas a investidores institucionais, ou seja fechada ao retalho, não tendo ainda sido esclarecido qual a percentagem do capital do Novo Banco que pode ser dispersa. É no entanto provável que seja uma fatia minoritária, de modo a deixar em aberto a possibilidade de entrarem diretamente outros acionistas de controlo.
Isto é, ao contrário do que aconteceu na primeira tentativa de venda, que fracassou em setembro, desta vez o fundo de resolução vai seguir dois caminhos em simultâneo: a dispersão por investidores e a tentativa de lançar um concurso que possa atrair outros concorrentes com vontade de ficar com uma parte mais alargada do capital.
Neste sentido, o roadshow tem como destino investidores dispostos a concorrer numa IPO reservada e outros, em separado, que pretendam participar apenas no concurso de venda. A ideia é criar alguma concorrência entre os dois modelos e assim fazer subir o preço. Para divulgar informação, a 11 de abril entrará em funcionamento o data room, ou seja, o centro de operações que responderá às dúvidas dos interessados, dando-lhes acesso a informação sobre o balanço do banco, depois de assinados os contratos de confidencialidade. A expectativa é que, no fim deste processo alargado, possam ter aparecido pelo menos três ou quatro investidores estratégicos dispostos a avançar para a fase final.
Destas movimentações, rapidamente se perceberá se até julho haverá apenas a IPO reservada, dispersando uma parte minoritária (talvez um pouco mais de um terço), ou se em alternativa surge um comprador com vontade de controlar a totalidade do capital. Foi esta a maneira encontrada por Sérgio Monteiro para aumentar o sentido de urgência dos investidores estratégicos, revertendo a favor do fundo de resolução o passar do tempo.
O Novo Banco tem de ser vendido até agosto de 2017 por ordem da Direção-Geral de Concorrência Europeia. Quanto mais se aproximar esta data sem que haja negócio, mais pressionado fica o fundo de resolução para vender, o que baixa o valor da instituição. Neste sentido, criar já uma primeira ronda de negociações pode levar a que os interessados na totalidade do capital decidam ir já a jogo para não terem de partilhar o ativo no caso de a IPO reservada avançar.
Há uma outra justificação para a aceleração do processo: até agosto deste ano, o fundo de resolução comprometeu-se a desencadear todas as medidas para sair do Novo Banco e terá nessa altura de fazer prova disso mesmo. Isto não significa que tenha mesmo de vender, até porque o prazo final só caduca um ano depois, em agosto de 2017, mas a partir deste verão o dossiê será analisado todos os três meses, estando prevista a aplicação de remédios, designadamente a obrigação de o banco vender sobretudo ativos internacionais que ainda detém - como por exemplo a operação em Espanha, hoje uma das poucas que não está à procura de comprador -, se as negociações voltarem a falhar.
O ambiente de negócios piorou neste início de ano, o que pode afetar o valor da transação. Mas a limpeza do balanço do Novo Banco e a criação do side bank, onde foram colocados 17 mil milhões de ativos a vender, dos quais 11 mil milhões até 2020 - imobiliário resultante de dações em pagamento, a seguradora GNB Vida, a participação na Ascendi e as operações internacionais do Novo Banco, menos a de Espanha - , ajudam a clarificar a situação do banco, tornando-se mais fácil para os investidores compreender quanto capital terão de gastar para desinvestir neste pacote de ativos. Será também destas contas que sairá o preço final a pagar pelo Novo Banco.