Mais de 100 pessoas morreram devido aos combates entre as Forças Armadas sudanesas e paramilitares.
O conflito entre as Forças Armadas e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) continuou ontem no Sudão, apesar dos apelos internacionais pelo cessar-fogo. Hospitais bombardeados no fim de semana estão "fora de serviço" ou com falta de materiais para o atendimento à população, vítima de um conflito que matou pelo menos 97 civis.
O Sindicato dos Médicos do Sudão confirmou ataques a pelo menos seis hospitais no país, com bombardeamentos que são "uma clara violação do Direito humanitário internacional" a deixarem os hospitais universitários de Al-Shaab e de Cartum "completamente fora de serviço". De acordo com a mesma entidade, as agressões vieram tanto das Forças Armadas sudanesas como das RSF, porém, ambas negaram as acusações em resposta à CNN.
Um médico ouvido pela estação afirmou que as equipas do hospital al-Moallem foram retiradas pelos militares depois de ataques pelas RSF. "O cheiro da morte está em toda a parte", disse o profissional, que teve de abandonar crianças em incubadoras e pacientes nos cuidados intensivos. A Organização Mundial da Saúde refere que vários hospitais em Cartum estão com falta de "materiais vitais".
Enquanto os ataques aéreos parecem ter diminuído ontem, os conflitos continuavam nas ruas da capital, segundo o canal Al Jazeera, que reportava batalhas nos arredores da sede do Comando das Forças Armadas. Pelo menos 97 civis e dezenas de combatentes dos dois lados morreram desde sábado. "Estamos com medo de que a nossa loja seja saqueada porque não há sensação de segurança", disse um comerciante em Cartum, citado pela agência Reuters.
Apelos ao cessar-fogo
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu ontem aos dois lados que "cessem imediatamente as hostilidades" e que "iniciem um diálogo para resolver a crise". Em comunicado conjunto, as diplomacias dos Estados Unidos e do Reino Unido expressaram preocupação com as ameaças aos civis. No mesmo tom, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês pediu respeito pelos trabalhadores humanitários.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português informou ontem que cerca de 12 nacionais estão no Sudão, mas não estão envolvidos no conflito. "Nós temos conhecimento de cerca de uma dúzia de portugueses, essencialmente pessoas que trabalham em organizações internacionais no Sudão e estão bem", comunicou João Gomes Cravinho, que lamentou os conflitos e reiterou o discurso da ONU, pedindo um cessar-fogo imediato.