O secretário-geral do PCP manifestou-se este sábado "surpreendido" com as declarações do Presidente da República, que disse esperar ver o próximo Orçamento aprovado pelo PSD se a esquerda não o fizer, recusando pressões para "assinar de cruz".
Jerónimo de Sousa marcou esta tarde presença no desfile e concentração da CGTP, que terminou no Terreiro do Paço para exigir melhores salários, tendo aproveitado a oportunidade para reagir às declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que na sexta-feira afirmou que, não sendo possível ter o Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) aprovado pela esquerda parlamentar, isso devia ser garantido pela oposição que ambiciona ser Governo, referindo-se ao PSD.
"Compreenderá que fico um pouco surpreendido com essas declarações, num quadro em que não existe ainda proposta de Orçamento. Isso significa o quê? Que querem que se assine de cruz sem conhecer o seu conteúdo?", questionou Jerónimo de Sousa, reiterando que sem conhecer a proposta do Governo não haverá decisões.
"Ninguém se substitui ao PCP na sua posição e somos claros nesta franqueza e disponibilidade para procurar fazer o melhor, que sirva os interesses dos trabalhadores e do povo, e não para satisfazer os interesses do Presidente da República. Obviamente, temos esta posição autónoma", disse.
Sobre o aumento do salário mínimo nacional, que Jerónimo de Sousa insistiu querer ver nos 850 euros "o mais rápido possível", sem concretizar se "o mais rápido possível" é em janeiro de 2021, recusou que o PCP trace aí "uma linha vermelha" para aprovação do OE2021.
"Nós nunca apresentámos linhas vermelhas. [...] Não pressionem, não vale a pena tentarem qualquer chantagem sobre o PCP", disse, insistindo que a posição do partido é clara sobre as suas opções e que será com essa "determinação e franqueza" que avançam "para a discussão e apreciação da proposta de Orçamento".
O secretário-geral do PCP lembrou ainda as declarações do líder do PSD, Rui Rio, que se manifestou contra qualquer aumento do salário mínimo nacional, referindo que face a estas declarações "o Governo pode tender até a rasgar o compromisso que tem" de aumento, "que apesar de ser insuficiente, era mais um passo adiante", apresentando "uma solução mitigada que não corresponda aquilo que é uma necessidade objetiva".
"Se dá essa indicação de que rasga esse compromisso então é um mau sinal e não queria fazer juízos de valor precipitados. Vamos continuar para corresponder a este grande objetivo de valorização do salário mínimo nacional para 850 euros".
Sobre a disponibilidade do Bloco de Esquerda para aprovar o próximo orçamento, Jerónimo de Sousa disse que "o Bloco é livre de ter as opções que quiser, mesmo não conhecendo a proposta de Orçamento do Estado", e insistiu que o PCP "não subscreve algo que ainda não conhece.