Uma escultura satírica foi retirada do Monumento ao Carnaval, uma instalação artística montada todos os anos no centro de Torres Vedras. O autor da obra denunciou o caso nas redes sociais e fala de "pressão" por parte da paróquia.
A escultura em causa, uma "Nossa Senhora da Bola", representa uma santa com uma bola de futebol no lugar da cara, que segura num cartaz onde se lê "Cristiano, dá-me a tua camisola". As obras são, todos os anos, alusivas a um tema geral e, este ano, o tema era "Made in Portugal" (Feito em Portugal).
Dirigindo-se aos habitantes de Torres Vedras, o autor da instalação denunciou o caso nas redes sociais, onde considerou que "o não entendimento de alguns relativamente a peças que fazem parte do Monumento ao Carnaval de Torres leva a situações extremas de pressão que em pleno século XXI não têm qualquer sentido".
"A liberdade de expressão criativa sempre foi a imagem de marca do nosso Monumento! Este ano não fugiu à regra! Contudo uma escultura criou 'alarido' suficiente, diretamente a mim e junto da Câmara Municipal, ao ponto de me ser imposta a sua remoção!", escreveu Bruno Melo, que colabora com o Monumento ao Carnaval há mais de três décadas.
À TSF, o artista disse saber que era "arriscado" juntar sátira e Igreja na mesma escultura, mas decidiu tentar a sorte. E esclareceu que o elemento não constava da maquete original que desenhou e que foi aprovada pela Câmara Municipal, situação que diz acontecer sempre, uma vez que o desenho é feito "com muita antecipação". "O concurso é em julho e a execução começa em outubro ou novembro, e há sempre ajustes", disse.
"Este é sempre um tema quente, de cada vez que nós tocamos no tema Igreja, as coisas aquecem. Se estivesse na maquete, não passaria, e eu também não sou louco ao ponto de pôr a imagem de Nossa Senhora como ela é e criei a minha própria santa, a 'Santa da Bola'", continuou.
Bruno Melogrante garante que a Câmara Municipal não tem qualquer responsabilidade no caso, mas sublinha que está a sofrer pressões por parte da paróquia de Torres Vedras.
"Por eles (autarquia), a figura ficava, porque não tem maldade nenhuma, mas a pressão é tão grande que é melhor tirar a imagem. Eu acato porque realmente foi uma peça que não foi aprovada pela Câmara Municipal. Acatei mas não tenho de ficar calado", acrescentou Bruno Melo.