Um implante vaginal feito a partir de um material plástico, produzido por uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo, foi lançado apesar de a firma saber que o dispositivo poderia encolher e endurecer dentro do corpo humano.
E-mails internos trocados entre executivos da Johnson & Johnson, aos quais o britânico "The Guardian" teve acesso, revelaram que a equipa da empresa estava preocupada com o facto de o material plástico de que o implante é feito se pudesse tornar "duro como uma rocha" e enrolar-se como uma "batata frita dobrada" dentro das pacientes. Numa das comunicações, os funcionários discutiram acerca da forma como o "encolhimento do impante" podia provocar dor.
Apesar do risco sabido, o implante Prolift, concebido para tratar o prolapso de órgãos pélvicos, foi disponibilizado em 2005 nos Estados Unidos, sem aprovação do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e só passado três anos - já os dispositivos estavam no mercado - foi autorizado pelo foi regulador.
Na altura, a Johnson & Johnson alegou que os implantes eram suficientemente similares a produtos existentes que acreditava não terem necessitado de aprovação. E não confirmou se o implante tinha o certificado CE na Europa - que garante o cumprimento dos requisitos da UE em matéria de segurança, saúde e proteção do ambiente - "devido a litígios em andamento".
No prolapso dos órgãos pélvicos, a vagina sai da sua normal posição por fraqueza dos tecidos de suporte, provocando dor
Os documentos consultados pelo diário britânico estão entre centenas que fazem parte de um processo judicial, em curso num tribunal dos EUA, na sequência de uma denuncia de uma cidadã norte-americana, que alega ter sofrido complicações traumáticas depois de se ter submetido ao implante.
Suzanne Emmett, 60 anos, processou a Johnson & Johnson por danos. A queixosa, residente na Pensilvânia, alega ter necessitado de várias cirurgias dolorosas na sequência do implante, feito em 2007, que diz ter perfurado a vagina e ferido o pénis do marido durante o sexo. Diz sofrer de contrações dolorosas da bexiga, incontinência e adianta que a sua vida sexual ficou afetada. Segundo a defesa de Emmet, o dispositivo inserido era defeituoso e a empresa atuou de forma "negligente" na sua fabricação, não avisando os médicos sobre todos os possíveis perigos. A empresa contesta as acusações.
Segundo o "The Guardian", dezenas de milhares de mulheres no Reino Unido receberam implantes para tratar o prolapso. Os dados do serviço nacional de saúde sugerem que uma em cada 15 mulheres que tenha um implante vaginal, tenha necessitado mais tarde da remoção total ou parcial do mesmo.
As revelações surgem na sequência de uma investigação global do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação acerca do recurso a implantes médicos com falhas, nomeadamente próteses e implantes.