Associações corrigem Proteção Civil e dizem que diminuíram efetivos e corpos de voluntários têm mais de um terço com salário
O efetivo de bombeiros do país tem vindo a diminuir todos os anos, não tendo chegado aos 29 mil em 2015 (último ano com dados disponíveis), quando dez anos antes eram quase 42 mil, indica o Instituto Nacional de Estatística (INE). Entram voluntários, mas também saem muitos e há uma grande rotatividade, justificam as associações que os representam. Isto apesar do aumento de assalariados nas corporações humanitárias, estimando-se que os profissionais constituam já um terço do seu total. Um debate sobre a profissionalização que ganhou relevância depois dos incêndios que começaram em Pedrógão há um mês, onde morreram 64 pessoas.
"Não é possível continuarmos com a ideia de que há 30 mil voluntários, este número inclui os profissionais e são muito mais do que indica o recenseamento da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Há comandantes que colocam os assalariados como voluntários quando têm um vínculo profissional com a corporação. Os profissionais representam cerca de um terço e, em algumas corporações, são já metade dos efetivos", explica Rui Silva, presidente da direção da Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários (APBV).
Pertence aos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde, que tem 42 assalariados num total de 100 bombeiros. "Não é possível depender o socorro do voluntariado: há cada vez menos voluntários, e só faz voluntariado quem tem boa condição social", justifica. Rui Silva tem dois empregos - funcionário da autarquia e professor -, o que significa que muitas vezes não está disponível para o voluntariado. Aprendeu à sua custa que não podia viver só de ideais, quando teve um acidente como bombeiro e viveu meses do salário mínimo, que é o que na generalidade garantem os seguros. Valeu-lhe a ajuda familiar. Defende a criação de verdadeiros incentivos e não "esmolas"para levar as pessoas a quererem ser bombeiros (ver caixa).