O comandante operacional do Exército, tenente-general Faria Menezes, está a criticar fortemente a decisão de pôr fim à missão no Kosovo, que terminou no dia 28 de abril. O oficial aponta, no Facebook, as baterias ao poder político, numa rara posição vinda de um general no ativo e que é também uma das principais figuras da hierarquia do Exército.
As críticas são veiculadas naquela rede social, na página do Operacional, com larga divulgação entre faixas militares e civis ligados às questões das Forças Armadas. Faria Menezes reage a uma publicação do responsável do Operacional, Miguel Machado, que publica um conjunto de artigos sobre a missão no Kosovo e a decisão de saída das forças portuguesas.
Para o tenente-general Faria Menezes, comandante das forças terrestres, trata-se de uma "decisão política, com pouca ou nenhuma discussão mediática ou em sede parlamentar, que coloca o Exército Português fora das Operações NATO e a participação nacional abaixo dos mínimos de responsabilidade dum membro fundador".
Confrontado com as declarações de Faria Menezes, o Ministério da Defesa salientou que "não comenta" "posts" no Facebook. No entanto, fontes dentro do processo apontaram ao JN que a questão de saída do Kosovo já está em cima da mesa há três anos, logo, bem antes do atual Governo. E, por outro lado, a decisão final foi tomada pelo Conselho Superior de Defesa Nacional a 6 de outubro do ano passado, presidido pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, onde foi dado "parecer favorável à retração da força nacional na KFOR até ao fim do primeiro trimestre de 2017", tal como consta do comunicado então tornado público. E a mesma fonte salienta que "não há mínimos" para a participação de um Estado membro.
O general Faria Menezes salienta que a decisão de pôr fim à missão no Kosovo "terá necessariamente consequências e sequelas conforme parecer militar, mais uma vez registado mas não seguido", o que deixa no ar a ideia de que houve um relatório contrário à saída de Portugal daquela região nos Balcãs. Faria Menezes destaca o "notável contributo de 21 anos dos nossos soldados naquele" teatro de operações.
Mas o comandante das forças terrestres não está sozinho nesta posição, se bem que enquanto militar no ativo lhe seja vedado expressar publicamente as suas opiniões, em particular no que diz respeito às questões operacionais. Há vários militares na reforma a criticar a decisão de saída do Kosovo e o Operacional destaca que "Portugal abandona por decisão política a missão da NATO/KFOR que continua no terreno e assim deixa de ter no quadro da Aliança Atlântica uma unidade de escalão batalhão empenhada em operações. É a primeira vez que tal acontece desde janeiro de 1996".
Além das questões associadas à área operacional, as preocupações estendem-se também ao receio de que o abandono deste teatro de operações possa ter consequências na redução dos candidatos para o Exército, em que um dos incentivos é a participação em missões de longa duração no exterior.