Com seis estados a votos, entre eles a Califórnia, ex-primeira-dama deve obter delegados necessários para garantir a nomeação democrata.
Faltam 26 delegados para Hillary Clinton entrar para a história. Depois das vitórias nas primárias das ilhas Virgens e de Porto Rico, a ex--primeira-dama deve chegar hoje aos 2383 delegados que lhe garantirão na convenção de julho, em Filadélfia, a nomeação democrata para as presidenciais de 8 de novembro nos EUA. Para Hillary se tornar a primeira mulher a ser escolhida como candidata à Casa Branca por um dos principais partidos nem precisa de vencer a gigante Califórnia, um dos seis estados que vão hoje a votos numa espécie de minissuperterça-feira.
Mas uma derrota frente a Sanders naquele que é visto como o último jackpot das primárias seria não só um golpe moral como daria argumentos ao senador do Vermont para continuar na corrida até à convenção. Mas se Hillary conseguir os delegados essenciais para a nomeação, porquê insistir? O argumento de Sanders é que a vantagem da ex-secretária de Estado se baseia nos superdelegados - os congressistas, senadores ou governadores democratas que podem escolher em quem vão votar na convenção. A larga - larguíssima - maioria dos que já se pronunciaram está com Hillary -546 contra 46 para Sanders.
"Ouvi dizer que a secretária Clinton acredita que vai ficar tudo resolvido [hoje] à noite, li que os media, depois dos resultados de Nova Jérsia, se preparam para dizer que está tudo acabado. Isso não é verdade", garantiu Sanders, citado pela CNN. O senador de 74 anos, cujo discurso antissistema conquistou a classe média e os eleitores mais jovens, aposta que nas próximas semanas conseguirá provar aos superdelegados que é melhor candidato à presidência do que uma Hillary impopular e a braços com o escândalo em torno do uso do seu e-mail privado quando estava à frente do Departamento de Estado, de 2009 a 2013.
Para Tim Sieber, professor na Universidade do Massachusetts, o facto de Hillary poder sair enfraquecida desta longa batalha com Sanders é "uma das maiores preocupações dos democratas". O académico recordou ao DN como no passado candidatos mais à esquerda que deram luta nas primárias prejudicaram o candidato mais ao centro dos democratas nas eleições gerais. Foi o caso de Eugene McCarthy e Robert Kennedy em relação a Hubert Humphrey, em 1968, ou de Ted Kennedy em relação a Jimmy Carter, em 1980. E em 2000, a candidatura do ecologista Ralph Nader roubou votos suficientes a Al Gore para dar a presidência ao republicano George W. Bush. "A grande questão agora é se os apoiantes de Sanders se vão juntar atrás de Hillary. Uns dizem que a ameaça de ver Trump presidente é tão grande que o vão fazer, mesmo contrariados. Outros acham que simplesmente não irão votar, o que pode custar a eleição" à ex-primeira-dama, explica Sieber.
Tarefa difícil
Uma eventual derrota de Hillary na Califórnia - a última sondagem YouGov/CBS News dá 49% de intenções de voto para a ex-primeira-dama, face a 47% para Sanders - daria argumentos a Trump de que a mais que provável rival democrata é fraca. Já sem adversários republicanos, após a desistência de Ted Cruz e John Kasich, o magnata do imobiliário tem tarefa difícil se quer chegar à Casa Branca em novembro. Além de conquistar todos os estados que foram para Mitt Romney em 2012, Trump precisa ainda de assegurar os 64 grandes eleitores (o presidente americano é escolhido por um Colégio Eleitoral onde cada estado tem representação proporcional ao seu tamanho) que faltaram ao ex-governador do Massachusetts. Para tal tem de vencer Florida, Virgínia, Ohio e Colorado.
Menosprezado quando entrou na corrida, inclusive pelo partido republicano, Trump conquistou a nomeação com o seu estilo desbocado e a imagem de que diz sempre a verdade, afastando-se dos políticos profissionais. Nova-iorquino que até já foi democrata, o milionário desagrada ao aparelho do partido, mas "foi mais bem-sucedido do que qualquer um de nós podia imaginar", admite o professor Tim Sieber.
Depois de uma subida nas sondagens nacionais, com algumas a colocá-lo à frente de Hillary, no último estudo Ipsos/Reuters, Trump surge a 11 pontos da ex-primeira-dama. Mas para garantir a vitória, esta tem de unir o partido atrás dela.