Virginia Raggi, candidata do partido de Beppe Grillo, ficou em primeiro lugar e à frente do candidato do partido de Matteo Renzi
Virginia Raggi foi a grande vencedora das eleições municipais italianas de hoje. A candidata do Movimento 5 Estrelas obteve entre 34% e 38% dos votos, segundo uma sondagens à boca das urnas do Instituto Piepoli para a televisão Rai, divulgada ao final da noite. Ao não conseguir chegar aos 50%, terá que disputar uma segunda volta no dia 19 com Roberto Giachetti. O candidato do Partido Democrático, formação do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, obteve entre 20% e 24% nesta primeira volta, segundo a mesma sondagem.
Raggi, de 37 anos, advogada e vereadora na capital italiana, ambiciona tornar-se a primeira mulher a liderar a autarquia romana. "As mulheres em Itália votaram pela primeira vez há 70 anos. Espero que os romanos queiram mudar a história elegendo-me como a primeira mulher autarca de Roma", disse num entrevista recente, antes da realização das eleições. Se a sua vitória se confirmar no dia 19, o Movimento 5 Estrelas, que lidera as sondagens a nível nacional, poderá ganhar terreno e fragilizar ainda mais o poder de Renzi. As políticas centristas deste têm gerado algum descontentamento dentro do seu Partido Democrático e, se não tiver resultados razoáveis nas principais cidades em disputa, poderá ver aumentar a contestação interna.
Em Roma a candidata do Movimento 5 Estrelas, escolhida através de uma votação online por parte dos apoiantes do partido, prometeu cortar os privilégios de que gozam os políticos e ajudar os pobres. A nível nacional a formação cofundada pelo comediante Beppe Grillo e Gianroberto Casaleggio (que morreu em abril deste ano) defende a redução dos impostos para as pequenas e médias empresas e investimentos nas novas tecnologias, energias renováveis e agricultura de alta qualidade. Além disso, o partido promete fazer um referendo sobre se a Itália deve ou não permanecer na zona euro.
Milão era, neste escrutínio, uma dessas cidades-chave. O candidato de Renzi, Giuseppe Sala, ex-presidente da Expo Milão 2015, conseguiu entre 41% e 45% dos votos, segundo a sondagem feita para a Rai. Qualquer candidato que não consiga mais do que 50% terá que enfrentar uma segunda volta. O seu rival, Stefano Parisi, candidato pelo partido Força Itália, surgia hoje à noite com um resultado situado entre os 35% e os 39%.
Noutras cidades importantes, Piero Fassino, atual autarca, candidato do Partido Democrático, surgiu em primeiro lugar, conseguindo entre 39% e 43% dos votos. Em Nápoles o favorito é também o atual presidente da câmara. Luigi de Magistris, um antigo procurador e político independente, obteve entre 43% e 47% dos votos. Avesso ao atual primeiro-ministro, De Magistris declarou Nápoles como "uma zona livre de Renzi".
Mas se o resultado destas eleições municipais em Itália (tanto o desta primeira volta como o da segunda volta de dia 19) não deverá fazer cair o governo, como notaram alguns analistas políticos, o mesmo não se poderá dizer do desfecho do referendo previsto para outubro. A consulta destina-se a aprovar ou a reprovar uma reforma constitucional que pretende reduzir o poder do Senado italiano. Aí sim, disse já há algum tempo Renzi, se sair derrotado do referendo pedirá a demissão de primeiro-ministro. Itália entraria num novo período de instabilidade política, que não seria inédito na história do país, mas poderia ter um impacto menos positivo, por exemplo na economia, numa altura em que há pressão por parte da União Europeia para um equilíbrio das contas públicas.