Líder socialista elogiou "coragem" dos comunistas e dos bloquistas por terem feito acordo de governo com o PS
Balanço de seis meses de governação (com duas medidas de futuro anunciadas), elogios à "lealdade" dos partidos da "geringonça" e uma certeza: "Provámos que é possível fazer diferente."
Assim se podem resumir os cerca de 50 minutos de discurso com que - perante uma sala onde ainda faltavam pelo menos metade dos 1700 delegados eleitos - António Costa abriu os trabalhos do XXI Congresso nacional do PS. Na nave central da FIL, no Parque das Nações, ocorreu um facto histórico, em toda a história dos conclaves socialistas: os congressistas aplaudiram o PCP, o BE e o PEV, os partidos que dão sustentação maioritária ao governo do PS. Foi quando Costa lhes elogiou a "coragem que tiveram em celebrar as posições conjuntas" que assinaram com o PS. Costa também aproveitou a ocasião para voltar a dar explicações sobre o que o levou a formar uma aliança com a esquerda e a formar governo mesmo não tendo o PS vencido as últimas legislativas. O PS - disse - não se contenta em ser "refém da direita" constituindo-se no partido que lhe dá "aquele bocadinho de votos que faltam para a maioria absoluta" quando a direita vence sem maioria absoluta. Um PS assim "é um PS que não cumpre a sua missão e a sua missão é assegurar aos portugueses que há uma alternativa à direita".
"Quando não há alternativa não há escolha e quando não há escolha não há democracia"
Para o futuro, Costa levou na manga duas medidas para anunciar: na próxima quarta-feira o Conselho de Ministros aprovará a constituição de um fundo para a reabilitação urbana que terá mil milhões ao dispor para dinamizar o mercado da construção civil; e em setembro o governo apresentará um plano de desenvolvimento do Interior. Para consumo interno dos socialistas também houve uma novidade: o falecido António de Almeida Santos será substituído no cargo de presidente honorário do partido por outra figura histórica do partido: António Arnaut, fundador do partido, deputado constituinte e, sobretudo, "pai" do Serviço Nacional de Saúde. Passavam sete minutos do início do discurso de Costa e os congressistas levantaram-se, pela primeira vez, para o aplaudir.
O elefante escondido no congresso do PS
Todo o balanço da ação governativa assentou num argumento principal: "Provamos que é possível fazer diferente." "Essa ideia de que não há alternativas é a ideia mais perigosa porque quando não há alternativa não há escolha e quando não há escolha não há democracia. Estamos a devolver a democracia aos cidadãos!"
Maria de Belém regressa
Costa voltará a ter a palavra amanhã, no encerramento do congresso. Terá a ouvi-lo Maria de Belém, um regresso depois da candidatura presidencial que levou os socialistas a não apoiarem formalmente nenhum dos candidatos a Belém. Agora, foi uma das proponentes da recandidatura de Carlos César a presidente do partido, ela que o antecedeu.
Ontem à tarde, o congresso socialista foi começando quase sem se dar por ele: debates temáticos desviaram os primeiros congressistas da FIL, no Parque das Nações, em Lisboa, quartel-general do conclave, para o Hotel Myriad, ali perto, na Torre Vasco da Gama. Com as intervenções de abertura marcadas para depois do jantar, na FIL só se viam militantes e simpatizantes que vinham inscrever-se, atualizar quotas e votar na eleição do presidente do PS e da mesa do congresso. Ou seja: votar em Carlos César duas vezes.
Quarenta minutos para lá da hora prevista, a canção dos Who Baba O"Reily, que é a abertura da série CSI Nova Iorque, chamou os congressistas para tomarem os seus lugares - e eram ainda enormes as clareiras na sala do congresso. Os trabalhos fecharam com as colunas a debitarem Prime-Minister"s Love Theme, da banda sonora do filme O Amor Acontece.
Antes de o secretário-geral ter a palavra houve eleições para alguns órgãos do PS. Carlos César foi reeleito presidente do PS, com 914 votos dos 926 delegados votantes (num total de mais de 1700 convocados para o congresso).
Um coelho da cartola
Já o único adversário de António Costa nas eleições diretas que consagraram de novo o atual primeiro-ministro como secretário-geral do PS, Daniel Adrião, chegou ao congresso com elogios à solução governativa encontrada por Costa. "É preferível uma geringonça que possa ter algumas deficiências do que uma máquina trituradora, que foi o que a direita representou ao longo dos últimos anos em Portugal."