Associação de Apoio à Vítima critica conselho de Carla Duarte em direto na SIC e já recebeu queixas de cidadãos contra o caso
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) condenou ontem os conselhos dados pela taróloga Carla Duarte a uma espectadora da SIC. No programa das manhãs A Vida nas Cartas - O Dilema, Maria da Glória afirmou ser vítima de violência doméstica "há mais de 40 anos". A taróloga aconselhou-a a "dar amor" e "mimo" ao marido. "É uma pena o que foi dito. Os meios de comunicação social têm sido uma plataforma de promoção dos direitos das vítimas de violência doméstica e é com muito desagrado que vemos uma situação destas, que pode não representar uma emissora de televisão, mas que para um programa para determinado target - sobretudo feminino - vai contra tudo aquilo que tem sido feito", disse Daniel Cotrim, assessor técnico da direção da APAV, ao DN.
Durante a emissão, Carla Duarte pediu à espectadora para não discutir e não procurar conflitos. "Você escolheu este homem e independentemente de tudo, por enquanto é com ele que vai ficar", disse a taróloga. "Quando damos amor, recebemos amor, mesmo que seja em menos quantidade. Quando damos violência, recebemos violência. Se recebe violência, corte este ciclo e não dê violência por muito difícil que isso seja. O problema dele é ele próprio", acrescentou.
Quando telefonou para A Vida nas Cartas - O Dilema, Maria da Glória referiu que o marido lhe batia - "ele faz-me tudo" - e quis saber se este a traía. "O que interessa é o que nós podemos fazer dentro do nosso casamento, agora o que os outros podem fazer...", respondeu-lhe Carla Duarte. "Ele não tem ninguém. Ele de si quer uma mãe, não quer uma mulher", concluiu. A intervenção provocou uma onda de reações negativas de figuras públicas no Facebook.
Daniel Cotrim salienta que seria importante a taróloga lembrar-se de que "se estava a falar de um crime público [punível por lei] e que as pessoas têm na posse delas a capacidade de socorrer e de fazer uma queixa". A APAV tomou conhecimento do caso através das redes sociais e, até ao momento, tem recebido contactos dos cidadãos. "Querem saber o que é que nós podemos fazer. A APAV não conhece a situação e estamos a aconselhar os cidadãos que estão indignados a falarem com a SIC e até com a própria Entidade Reguladora para a Comunicação Social para apresentarem queixa."
Cotrim frisa ainda o impacto negativo que este caso pode vir a ter em quem está a passar por situações semelhantes à da espectadora que entrou em contacto com a estação de Carnaxide. "Tenho medo de que as pessoas que estão a ver aquele programa acreditem que aquilo que foi dito é tal e qual assim, ou seja, que têm de se resignar a essa vida e ir aguentando. O profissional que está à frente de um programa como estes tem de ter uma atitude profissional. Não vale tudo em nome do espetáculo."
Recorde-se que, há quatro anos, a primeira apresentadora deste formato, a taróloga Maya, envolveu-se numa polémica com o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, na sequência de conselhos de saúde que deu a uma espectadora doente. O DN contactou ontem a estação de televisão , mas não foi possível obter comentários.