Nasceu em França, mas mudou-se para Espanha para trabalhar para o rejoneador Ángel Peralta. Hoje estreia-se no Campo Pequeno
"Classicismo e modernidade, mas sempre privilegiando a abordagem frontal ao toiro." É assim que a francesa Léa Vicens, de 32 anos, define o seu toureio. Cresceu entre touros e cavalos, na região de Camarga, no Sul de França, mas só mais de duas décadas depois de começar a montar a cavalo - com Ourasi, um pónei oferecido pelos pais - se estreou em público nas touradas. É considerada uma das grandes promessas na arte do toureio e mais uma prova de que as mulheres têm lugar no mundo da tauromaquia. Léa estreia-se hoje no Campo Pequeno, alterna com o rejoneador espanhol Pablo Hermoso de Mendoza e o cavaleiro português João Moura Júnior.
Enquanto tirava a licenciatura de Biologia na Universidade de Montpellier, a rejoneadora Léa Vicens foi trabalhar numa praça de touros para pagar os estudos. E foi a partir daí que a sua vida começou a mudar. Conheceu pessoas influentes no meio, entre as quais a família Peralta.
Apercebendo-se do seu potencial, Ángel Peralta convidou-a para integrar o Rancho El Rocio, em Puebla del Rio, perto de Sevilha. Ao mesmo tempo, Ángel e o irmão, Rafael, ensinavam Léa a tourear. Com o dinheiro que ganhava, a jovem comprava cavalos e, durante os quatro anos seguintes, treinou intensamente, refinando o seu toureio.
A 2 de outubro de 2010, Léa Vicens estreou-se em público, em Olmedo, Valladolid, sob o olhar do seu mentor, que fez sempre questão de a acompanhar. Numa entrevista à Agência France Press, Léa contou que Ángel se tornou um mestre, tendo assumido o"papel de avô". Sabia o que estava a fazer de errado e dava-lhe os conselhos certos.
As estatísticas espelham uma carreira de sucesso. Logo na primeira tourada, a jovem cortou duas orelhas. Três anos depois, tomou a alternativa em Nîmes, na sua terra natal, apadrinhada por Ángel Peralta e Paco Ojeda. Desde então, tem vindo a melhorar a sua técnica e, no ano passado, toureou 26 corridas, tendo cortado um total de 67 orelhas e um rabo.
Léa não chegou a terminar a licenciatura em Biologia, pois encontrou nas arenas a sua grande paixão. Na entrevista à AFP, em 2013, contou que os pais "ficaram surpresos" com o rumo que decidiu dar à sua vida, mas sempre a apoiaram. Houve inclusive quem lhe dissesse que era "impossível", que não ia vingar no mundo da tauromaquia. Mas a cavaleira provou que é possível.
No passado dia 16 de maio, cortou as orelhas ao segundo toiro do seu lote, em Nîmes - considerada a arena mais importante de França - e saiu em ombros com Pablo Hermoso de Mendoza, que obteve iguais troféus. À imprensa internacional da área, que destacou o seu feito, disse que o sucesso ali alcançado a fez sentir confiança para os compromissos "fortes" que a esperam nesta temporada. Depois de confirmar a alternativa no Campo Pequeno, a rejoneadora tem uma prova semelhante, no sábado, em Madrid (Las Ventas), também na companhia de Pablo Hermoso de Mendoza.
Numa visita ao Campo Pequeno, Léa mostrou-me muita vontade de atuar em Lisboa, pois "ali o público entende e valoriza o que o cavaleiro faz na arena". Para Portugal, a francesa traz nove cavalos.