Depois das gravações de Sérgio Machado levarem à queda de dois ministros, agora é a vez do filho dele assinar acordo com os juízes da Lava-Jato. E a seguir falará Marcelo Odebrecht
As gravações que Sérgio Machado, ex-presidente da subsidiária da Petrobras para a área dos transportes, a Transpetro, fez durante os meses de fevereiro e março com barões do PMDB já levaram à queda de dois ministros - Romero Jucá, do Planeamento, dia 23, e Fabiano Silveira, da Transparência, na madrugada de ontem. Por isso, o governo do presidente interino Michel Temer, do PMDB, recebeu com um frio na espinha a notícia de que Expedito Machado Neto, filho mais novo de Sérgio Machado, também fez acordo de delação premiada com os juízes que coordenam a Operação Lava-Jato sob liderança de Sérgio Moro.
Depois dos juízes da Lava-Jato identificarem Expedito como gestor de um fundo da Transpetro e, em paralelo, como operador financeiro da cúpula do PMDB, acordaram receberem informações sobre o percurso do dinheiro desviado das obras e serviços da subsidiária da Petrobras rumo aos barões do maior partido do governo interino em troca de redução de pena. Segundo fontes citadas pela imprensa, o já demitido Jucá, o presidente do Senado Renan Calheiros e o antigo presidente da República José Sarney estão novamente entre os políticos mais atingidos pela colaboração de Expedito. Tanto Expedito como o pai concordaram também com as autoridades devolver aos cofres públicos o dinheiro desviado do fundo.
Desde o início do seu governo que Temer fora alertado para os riscos de se rodear de envolvidos na Lava-Jato. A começar por Jucá, seu braço-direito, apanhado numa escuta a dizer que só com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) a operação poderia ser estancada, e a acabar nas últimas horas com Fabiano Silveira, que foi gravado a aconselhar o seu padrinho político, Renan Calheiros, a confundir os investigadores do caso. E no executivo há outros nomes sob a mira de Moro e companhia (ver caixas).
Horas mais tarde, também foi confirmado o acordo de delação premiada entre Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do país e detido desde Junho de 2015, e Moro. O empresário é considerado, desde o início da Lava-Jato, o homem com mais segredos no processo e pode implodir o governo atual mas também dos do PT, com os quais manteve relações privilegiadas, e não só. A empresa Odebrecht já havia assinado acordo semelhante.
Entretanto, Marcos Rogério (DEM), relator do processo no Conselho de Ética a Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados afastado, entregou o seu parecer sobre o caso a favor da perda de mandato do deputado do PMDB. Cunha já anunciou que irá recorrer.
Cunha é investigado por manter contas secretas na Suíça e por ter mentido sobre a existência delas numa comissão parlamentar de inquérito sobre o Petrolão no ano passado. O processo, aberto ainda em 2015, é o mais longo da história legislativa do país. Pelo meio, o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou-o da presidência da Câmara por "falta de condições pessoais".
Dilma, entretanto, tem até hoje para entregar a sua defesa na fase final do julgamento no Senado do impeachment, cuja data ainda não está marcada, mas que será presidida pelo juiz Ricardo Lewandowski, líder do STF. Entre os argumentos estará a gravação em que Jucá relaciona o fim da Lava-Jato à formação de um governo de Temer. Para não ser destituída em definitivo, Dilma precisa do voto de um terço dos 81 senadores.