Dirigentes e jogadores detidos pela Judiciária começam hoje a ser ouvidos no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa
Salários em atraso, dinheiro vivo disponível. Foi perante esta equação que alguns dos jogados detidos este fim de semana pela Polícia Judiciária na "Operação Jogo Duplo" entraram no mundo das apostas e nos jogos combinados. Através de uma rede de intermediários, um esquema de apostas com origem na China terá, segundo as suspeitas em causa, movimentado milhares de euros no campeonato da II Liga, com especial incidência junto do Oriental e Oliveirense.
Segundo fonte próxima da investigação, o mundo das apostas online permite colocar dinheiro e sobre quase todos os aspetos de um jogo de futebol: desde o vencedor, passando por o número de cantos de uma partida, o resultado no final da primeira parte e da segunda metade, o marcador do golo, etc. Os guarda-redes, ainda de acordo com a mesma fonte, seriam os mais bem pagos para facilitar o golo. Nesta situação estarão Rafael Veloso, guarda-redes do Oriental, e Hélder Godinho da Oliveirense.
A situação dos ordenados em atraso tinha já motivado um alerta, em abril deste ano, do presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista, declarando que tal situação colocava em causa a verdade desportiva e no limite potenciaria outras ameaças, como por exemplo a "manipulação de resultados". "Os jogadores mais fragilizados, mais vulneráveis estão mais expostos a este tipo de fenómenos", disse.
Ontem, o Sindicato dos Jogadores sublinhou, em comunicado, a mensagem: "Se as dificuldades financeiras dos jogadores e dos clubes propiciam o aliciamento por parte de organizações criminosas, a falta de regulamentação eficaz e de escrutínio da idoneidade dos investidores no futebol português compromete, em definitivo, os valores do desporto, entre os quais a verdade desportiva, traduzida na verdade dos resultados obtidos em campo".
Corrupção desportiva
Fora do esquema das apostas, mas suspeitos de corrupção desportiva estarão o presidente do Leixões, Carlos Oliveira, e o diretor desportivo do clube de Matosinhos, Rui Silva. Ambos são suspeitos de aliciar jogadores adversários com o objetivo de assegurar a manutenção do clube na II Liga. Isto porque, em 2015, a Assembleia Geral da Liga aprovou a descida de cinco equipas na época 2015/2016. Segundo a classificação final, o Leixões ficou um lugar acima da linha água, à frente do Benfica B, o que possibilitou a manutenção no segundo escalão do futebol profissional. Entretanto, o Mafra, que terminou a época na 20.ª posição e foi despromovido, defende a impugnação do campeonato caso se confirmem as suspeitas de viciação de resultados.