Líder arruma a casa antes de enfrentar hoje o primeiro contacto, após o congresso, com desalinhados no conselho nacional
Passos Coelho tem esta noite o primeiro teste após o congresso, tendo de lidar com as vozes mais desalinhadas dentro do partido. Mas antes arruma a casa. Em dia de Conselho Nacional do PSD - órgão máximo entre congressos - o líder vai também apresentar na comissão política a distribuição de pelouros da direção, à qual ao DN teve acesso.
A ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, ficará sem surpresas com a área da política financeira - que já tem assumido desde que se tornou vice-presidente no início de abril.
Já Marco António Costa - que em tempos foi porta-voz e coordenador político (cargo que deixou de existir) -ficará com o pelouro da ação social. O facto de ter sido secretário de Estado da Segurança Social fez o ex-autarca de Gaia posicionar-se nesta área.
Jorge Moreira da Silva, o primeiro vice-presidente do PSD -além da parte mais doutrinária, para a qual costuma ser conselheiro de Passos - fica com a área da política ambiental e da sustentabilidade. Também aqui sem surpresas, uma vez que foi ministro do Ambiente.
Enquanto Maria Luís é responsável pela parte mais financeira, Sofia Galvão ficará com o pelouro da economia. Ou melhor, macroeconomia. Teresa Leal Coelho e Teresa Morais - além das áreas da igualdade - ficarão responsáveis pela representação institucional e, quando for necessário, substituirão o líder.
Aliás, na ausência de porta-voz, já têm sido escolhidas para falar em nome da direção em algumas circunstâncias e também vão lidar de perto com as bases em ações descentralizadas pelo país. Estes pelouros já estavam mais ou menos esboçados, mas Passos comunicou recentemente aos vice-presidentes qual a função que tinham no "governo" interno do PSD: a direção nacional.
Hoje Passos tem a primeira reunião do Conselho Nacional desde o congresso e aí poderá ouvir algumas vozes mais críticas. O líder até conseguiu quase duplicar o número de conselheiros eleitos na lista que apoiou (passaram de 18 para 33), mas voltaram a ser eleitos conselheiros desalinhados com a direção.
Um desses conselheiros, ouvido pelo DN, está descontente com o facto de o PSD parecer que "anda a reboque do CDS" e vai exigir que o partido tenha "um registo próprio que ainda não encontrou, mesmo depois de já ter passado um mês e meio do congresso".
Passos volta a acelerar
Entretanto, Passos Coelho - após ter sido acusado de "se fazer de morto" (como acusou o ex-líder Marques Mendes)-voltou a intervir no Parlamento e a intensificar a agenda. Ontem, falou em três circunstâncias. A última, na apresentação de um livro da ex-ministra da "democracia musculada" de Singapura, Lim Hwee Hua. O líder do PSD lembrou o PREC (Processo Revolucionário em Curso) para dizer que o processo de nacionalizações em 1975 "provou que a intervenção indiscriminada do Estado nas empresas produziu resultados bastantes negativos na nossa economia". Um Passos mais liberal do que keynesiano, defendeu ainda que "o Estado não tem espaço para intervir mais nas empresas".
Quanto ao atual governo - numa referência à reversão da privatização da TAP e das concessões dos transportes - Passos alertou que "tanto o governo como a maioria que o apoia (...) defende a solução da intervenção pública em muitas áreas por uma questão, digamos, mais ideológica".
Embora respeite as opções ideológicas, Passos adverte que estas "reversões" são desprovidas de qualquer "racionalidade económica".
Também ontem, na Marinha Grande, Passos tentou dar uma chapada ao governo, falando no atraso nos pagamentos de fundos comunitários às empresas. "Preocupa-nos um dado muito enfatizado pelos empresários: os atrasos que se estão a verificar nos pagamentos de despesas que foram realizadas ainda no âmbito do anterior QREN (...)Há atrasos que se estão a acumular e que não são muito compreensíveis", denunciou Passos Coelho.
Ainda antes, pela manhã, em Leiria, Passos tinha considerado que a estratégia económica do governo "está errada",pois devia "olhar para a exportação" e "atrair investimento direto externo" para permitir o crescimento da economia. O líder do PSD antecipa dificuldades se não se mudar o paradigma: "Se não tivermos a capacidade de atrair investimento que venha de fora cresceremos sempre pouquinho".