Uma janela de esperança que se abre com o novo ciclo político foi como os líderes do PCP e do BE descreveram as comemorações do 25 de abril, no início do desfile que reuniu milhares de pessoas em Lisboa.
Vários milhares de pessoas desceram a avenida da liberdade no dia em que se assinalam os 42 da revolução de Abril, a primeira comemoração depois de quase cinco anos de governação PSD-CDS.
Em declarações aos jornalistas, o secretário-geral do partido comunista, Jerónimo de Sousa, admitiu que a data de hoje tem outra importância política, agora que o país tem um governo socialista apoiado pela esquerda parlamentar.
Na opinião de Jerónimo de Sousa, há "uma janela de esperança" que se abre, depois de muitos anos de austeridade que deixou os portugueses a viver "com muitas dificuldades".
Para o líder do Partido Comunista, as comemorações de hoje "são diferentes para melhor", já que no ano passado o país estava confrontado "com um Governo com uma política de exploração e de empobrecimento".
"Perante um presidente da República que apoiou até à última instância esse mesmo Governo, em que tanta luta o nosso povo travou sem o resultado concreto que era a demissão do Governo", criticou.
"Neste Abril que celebramos agora, podemos dizer que está longe de ser a política que recupera os valores de Abril, mas como que se abriu uma janela de esperança, dando mais força a quem luta", acrescentou.
Questionado sobre se o presidente da República poderá colaborar nesta mudança, Jerónimo de Sousa disse que ainda é cedo para fazer essa avaliação, mas frisou que Marcelo de Rebelo de Sousa é, sem dúvida, diferente do anterior presidente, Cavaco Silva, cujos discursos eram "de crispação" e "ameaçadores".
"Há que esperar para ver, mas registo as diferenças em relação ao ano passado", disse Jerónimo de Sousa.
Também a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, concordou que o país vive um tempo de mudança política, apontando que o dia de hoje é de celebração e lembrando que há 42 anos o país vivia uma guerra colonial e vivia em ditadura.
"Há todo um país novo graças a uma revolução, graças a quem acreditou que não há impossíveis e construiu uma realidade, julgo, única do nosso país, e que às liberdades fundamentais da democracia juntou o Estado Social (...), o que cria condições de igualdade", apontou.
"Há todo um país novo graças a uma revolução, graças a quem acreditou que não há impossíveis."
No entanto, frisou que "o país sofreu muito nos últimos anos" e que "há muita gente hoje" que se sente excluída destas comemorações e não tem razões para celebrar a Revolução de Abril, pelo facto de não ter emprego, viver em precariedade ou estar na pobreza.
"Quando vimos à rua para comemorar a democracia, vimos sobretudo também com a consciência do que há para fazer, porque onde há miséria não há democracia e não há liberdade", defendeu Catarina Martins.
A líder do Bloco de Esquerda sublinhou que "há novas condições políticas no país", mas defendeu que as mudanças feitas entretanto, desde o salário mínimo nacional à reposição dos valores das prestações sociais, são poucas.
"Precisamos de muito mais e é por isso que hoje é muito bom estarmos a celebrar o 25 de Abril, não com saudades do que fomos, mas com imensa responsabilidade do que sabemos que temos de fazer para a democracia, para a liberdade, para a igualdade serem palavras que tenham significado real de tantos quantos vivem no nosso país", defendeu Catarina Martins.
Na Avenida da Liberdade, o desfile decorreu com milhares de cidadãos que não quiseram deixar de assinalar esta data da história do país, que marca a transição para a democracia.
Eram cerca de 17 horas quando a frente do desfile chegou à Praça do Rossio, onde depois tiveram lugar os discursos no palco montado para o efeito.