O Presidente da República rejeitou ontem comentar a tensão entre Portugal e Angola e, sabe o DN, não pretende visitar o país este ano.
Mesmo que o primeiro-ministro, António Costa, decida ir em 2016 a Angola, Marcelo Rebelo de Sousa não o acompanhará. A prioridade agora é Moçambique, que visitará já em maio.
A possibilidade de o Presidente e o primeiro-ministro visitarem Angola "em breve" foi assumida em meados de abril passado em Lisboa pelo ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Angola, Georges Chikoti. "Sei que houve contactos entre Luanda e Lisboa e teremos, provavelmente nos próximos tempos, a visita do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal a Angola. Caberá agora aos nossos dois ministérios trabalhar para que consigamos encontrar as datas", sublinhou o ministro.
Na quarta-feira da semana passada, numa entrevista à Rádio Nacional de Angola, o MNE português, Augusto Santos Silva, reforçaria dizendo que o Governo português está a "investir muito" na visita do primeiro-ministro português a Angola. E será, segundo acrescentou ontem ao Expresso, "no prazo mais curto possível" - é pelo menos esse o interesse do Governo português
Ontem, à margem da sua presidência aberta de três dias no Alentejo (ver notícia na página ao lado), Marcelo evitou comentar as novidades do caso BPI/Isabel dos Santos: "Eu, sobre isso, o que tinha a dizer disse e o que tinha a fazer fiz. E agora não me pronuncio mais." E repetiu: "Não me pronuncio mais." A minutos de entrar num comboio com destino a Beja, os jornalistas insistiram na pergunta e Marcelo na resposta: "Não vale a pena insistir, porque eu não vou dizer nada sobre essa matéria."
Governo já não se mete
Mais insistência e Marcelo remeteu para o que tinha dito quando no início de abril soube da existência de um pedido de ajuda daquele país ao FMI. "Volto a dizer o que disse: são Estados irmãos na CPLP [Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa] e tudo o que corra bem para eles corre bem para Portugal."
Em Amesterdão, onde participou numa reunião do Ecofin, o secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, afirmou que o Governo está a acompanhar a "situação no sistema bancário", mas não o faz em relação a negociações entre acionistas privados.
"Obviamente que estamos a acompanhar a situação no sistema bancário, em todos os bancos. Não estamos a acompanhar, em particular, as negociações entre dois acionistas privados de um banco [BPI]".
O governante sublinhou, no entanto, que o BPI "obviamente é um banco com importância para a Economia e, portanto, é algo que é relevante". "Mas não estamos a acompanhar negociações entre dois acionistas privados. Nem sequer faria sentido fazê-lo."
A notícia segundo a qual o BPI e Isabel dos Santos terão retomado negociações foi avançada na TSF pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
"Acho que há um interesse de todos os acionistas de encontrarem uma solução. Acredito e penso que os principais acionistas [Caixabank e Santoro, a holding da empresária angolana] também acreditam, senão não estariam outra vez a conversar e a tentar encontrar soluções. Penso que continuam [a conversar]". O governante descartou, no entanto, a possibilidade de um novo envolvimento do Governo neste sentido, pois é necessário "dar espaço" aos acionistas para que se entendam.
No domingo passado, o BPI informou que ficou sem efeito o entendimento entre os seus dois principais acionistas (espanhóis da CaixaBank e Santoro Finance, da empresária angolana Isabel dos Santos), que tinha sido anunciado ao mercado no dia 10 de abril para reduzir a exposição do banco a Angola, exigida pelo Banco Central Europeu (BCE).
Na segunda-feira, o espanhol CaixaBank anunciou a intenção de lançar uma Oferta Pública de Aquisição de ações (OPA) voluntária sobre o BPI, oferecendo 1,113 euros por cada ação do banco que não controla (55,9%). Esta operação está condicionada à eliminação da limitação de 20% nos direitos de voto do BPI, a alcançar mais de 50% do capital do banco e à obtenção das autorizações regulatórias. Na terça-feira, a Santoro negou ter quebrado qualquer acordo com o CaixaBank e acusou o Governo português de "favorecer uma das partes". Posteriormente, o BPI refutou a versão apresentada pela Santoro, afirmando não reconhecer a versão dos factos apresentada.
Ontem, o Expresso noticiou que o Governo angolano está a preparar uma resposta à lei portuguesa que põe fim à limitação dos direitos de voto no BPI.