Matos Rosa, secretário-geral do PSD desde 2011, começou há dois meses a organizar o 36.º congresso do PSD, que promete que será "o mais digital de todos os já realizados em Portugal". Diz que é no congresso que todos se devem fazer ouvir - crítica a Rui Rio que nem se fez eleger delegado - e diz que Passos Coelho é o "mais bem preparado" para a liderança.
O congresso vai marcar um virar de página na atitude do PSD? Destacados militantes criticam o facto de estar amarrado ao passado.
O PSD é um partido de futuro, sempre foi reformista. O nosso luto já foi feito, estamos voltados para o futuro. A moção do presidente e as 27 moções temáticas revelam isso. O presidente do partido disse há pouco tempo o que é que faz o maior partido da oposição...
Não participa na discussão do OE?
Isso é uma questão que não tem nada a ver. Um partido na oposição prepara-se para ser um dia Governo e conseguir chegar à governança do país. É para isso que cá estamos. Ao contrário do que dizem os comentadores, o PSD não está fechado em si próprio. A questão do Orçamento é diferente: o primeiro-ministro disse aos portugueses e ao presidente da República que tinha um Governo estável e para durar 4 anos e para isso arranjou o PCP, o BE, Os Verdes e, de vez em quando, o PAN e são eles que têm que viabilizar o OE. Não podemos desvirtuar o instrumento mais importante do PS para cumprir o projeto que tem para o país.
O PS não pode ter uma visão do país extremista à esquerda numas alturas e ao centro noutras
Que oposição vai fazer o PSD?
Construtiva, com projeto. Temos um programa de Governo que saiu vencedor há seis meses nas eleições, vamos atualizá-lo, sempre com esta questão reformista. Esse é o nosso ADN.
O PSD vai participar na discussão do Programa de Reformas?
Claro. E o PS reverte as reversões que fez, resolve discutir connosco questões como a reforma da Segurança Social, a interioridade, a natalidade. O PS não pode ter uma visão do país extremista à esquerda numas alturas e ao centro noutras.
Essa é a condição do PSD para participar nesse debate?
Não podemos participar com um PS que reverte tudo aquilo que nós fizemos. Se o PS ler a moção do senhor presidente do partido verá que há lá várias destas questões. Para participarmos o PS tem de pensar melhor o projeto político para o país, que não é o nosso. E pensar em reverter o que já reverteu, porque é também uma questão de credibilidade do país.
O PSD parece apostar na estratégia de que o acordo que sustenta o Governo não vai vingar.
Não queremos isso. Queremos que haja estabilidade, que o doutor António Costa cumpra e que tenha as condições que os parceiros de coligação radical à Esquerda lhe deram. Queremos que o Governo dure o máximo de tempo possível e tenha o maior sucesso porque o sucesso do Governo será o sucesso de Portugal.
Passos Coelho foi reeleito com 95% dos votos, mas não se livra de ouvir críticos no congresso. José Eduardo Martins diz que "a ressurreição do PSD tarda" e Pedro Duarte, ex-líder da JSD, pede "um projeto político novo para o país".
Esses são dois bons companheiros de partido, mas não concordo. O Pedro Duarte foi presidente da Jota e tem acompanhado o partido ao longo dos tempos. De uma forma ou de outra têm participado naquilo que podem, tenho-os encontrado nalgumas sessões pelo país. Ainda há pouco tempo encontrei o Pedro Duarte na sessão do Porto da candidatura do dr Passos Coelho. Estava ali como apoiante, agora não quer dizer que concorde com tudo. Só no PCP, no BE e no PS é que pode haver essas coisas. Nós não. O Zé Eduardo foi presidente da distrital de Viana do Castelo, foi eleito por uma pequena concelhia mas importante, e acho que é importante estas pessoas virem dar o seu contributo ao congresso. Agora tem de ser pela positiva. É nestes fóruns próprios que se deve discutir. Não temos medo de discutir seja o que for. É essa diversidade que faz com que o PSD seja o maior partido português.
Como é que viu a declaração de Rui Rio a dizer que não vai ao congresso para evitar "perturbar"?
Revela grande humildade. (ironia)
Ao que se sabe, não fez nada para ser eleito delegado.
Mas tinha de fazer. Quem quer ir ao congresso e quer estar com o partido, mesmo que não concorde, deve sujeitar-se à eleição.
Nós somos contra a política do bota abaixo
Há outras pessoas críticas. Morais Sarmento diz que não sabe se Passos Coelho é um líder para ganhar as eleições numa nova fase.
Não achei que tivesse feito grandes críticas, pelo contrário: ele diz que o doutor Passos Coelho é a pessoa exata para este momento. E a gente está a discutir este momento e o futuro do país. Lá mais à frente falaremos, mas o destino a Deus pertence.
Se esta solução de Governo durar até 2018, altura em que volta a haver eleições no PSD...
É isso que nós queremos. Que dure o máximo de tempo possível. Nós somos contra a política do bota abaixo. Temos a clara noção de que o país continua a passar um momento muito difícil, que este não é o nosso projeto mas estaremos sempre ao lado dos portugueses.
Mas nessa altura acredita que Pedro Passos Coelho voltará a ser o único candidato às eleições no partido?
Claro que sim. É a pessoa mais bem preparada, a pessoa que melhor conhece os dossiês, que interna e externamente mais credibilidade tem. Além disso já deu provas que é um homem sério e leal aos portugueses.
O PSD tem de trabalhar para conquistar quem? Porque tendo ganho as eleições não foi suficiente para governar.
Tem de manter estes eleitores que acreditaram em nós e voltar a conquistar mais alguns. Porque há um paradigma que mudou: hoje tem de se criar maiorias para podermos governar. Os governos de minorias acabaram. Portanto temos de conquistar muito mais, ir muito mais além, mas sem política populista. Não entraremos em populismos para ganhar eleições.
Mesmo que sejamos Governo, tenhamos maioria, contamos com o CDS para a governação
A próxima batalha eleitoral são as autárquicas do ano que vem. Qual é que deve ser a fasquia do PSD?
O presidente do partido já disse: é ganhar a presidência da Associação Nacional de Municípios.
E se isso não acontecer?
Não é drama nenhum. Apresentaremos os melhores candidatos às autarquias, as melhores propostas e poremos também aí os interesses das populações
Quem é o melhor candidato para recuperar a Câmara de Lisboa?
A seu tempo. O presidente do partido, depois dos novos órgãos eleitos, irá anunciar quem é a comissão autárquica. Temos muitos apoiantes, militantes, gente muito boa para ser candidato a qualquer autarquia local.
O CDS foi parceiro de coligação nos últimos 4 anos, mas a nova liderança diz que quer eventualmente até conquistar militantes ao PSD. Como encara isso?
Não há problemas nenhuns. Somos partidos diferentes. Quanto mais forte for o CDS, mais forte for o PSD, mais fácil será chegarmos um dia os dois partidos à governação do país.
Na atual circunstância, cada vez será mais difícil ao PSD chegar ao poder sozinho?
Vamos ver, conforme o projeto. Mesmo que sejamos Governo, tenhamos maioria, contamos com o CDS para a governação. Nós queremos agregar e não excluir. Queremos ter uma base de apoio maior, com mais estabilidade. É isso que importa.
Fui ver, e não vi em lado nenhum um reparo ao presidente do PSD
Sendo o atual presidente da República uma pessoa da área política do PSD, como é que tem visto o estado de graça e de elogios mútuos com o primeiro-ministro?
Isso é normal, num primeiro mandato. O senhor presidente ad República, com as caraterísticas que lhe reconhecemos, é uma pessoa de muitos afetos, muito próxima das pessoas e portanto também a nível do Governo quer que haja estabilidade e ser mais um a contribuir para que haja estabilidade em Portugal. Está a fazer o papel que lhe é devido e que é a obrigação de um presidente.
Como é que viu o reparo que o presidente fez ao líder do PSD, dizendo que o primeiro-ministro fez o que tinha de fazer em relação à questão do BCP?
Não houve reparo nenhum. Fui ver, e não vi em lado nenhum um reparo ao presidente do PSD.
E os apelos que o líder parlamentar do PSD fez ao PR pedindo que deixasse alertas na promulgação do OE. Não pode ser entendido como uma tentativa de condicionamento?
Não, de modo nenhum, esse é o nosso papel, alertar para os riscos. Além disso, o senhor presidente da República, tanto o anterior como o atual, não se deixam pressionar.
Está contente com as primeiras semanas de mandato de Marcelo Rebelo de Sousa?
Tenho acompanhado e estou satisfeito, como todos os portugueses, E nós ficamos muito satisfeitos porque foi a primeira vez que, em 42 anos de democracia, um Presidente da República oriundo das hostes sociais-democratas deu lugar a um novo presidente oriundo da social-democracia. Isso enche-nos de orgulho porque o PSD tem dado grandes presidentes da República.
Os apelos do presidente para que haja estabilidade não podem vir a condicionar os anseios do PSD?
Pelo contrário, dá força aos anseios do PSD para que haja estabilidade e que o Governo governe e que tenha um projeto consistente para Portugal.