O país onde se alugam telemóveis na rua
Já pensou em vender minutos de telemóvel? Na Colômbia é um negócio de rua.
Em Medellín, mas também na capital Bogotá, os vendedores de minutos ocupam o seu espaço entre centros comerciais e cafés, em busca de clientes que só usam o seu próprio telemóvel para receber chamadas ou já esgotaram o 'plafond' mensal /
É um negócio simples: vender minutos de telemóvel a quem passa nas ruas mais concorridas de Medellín, na Praça Botero ou ao lado do jardim botânico Joaquín Antonio Uribe. Cada vendedor tem uma posição estratégica para ocupar diariamente com o seu banco ou carrinho e um cartaz a anunciar este negócio de oportunidade, onde a lei da oferta e da procura parece ter homogeneizado o preço nos 200 pesos /minuto (€0,08).
"Compram um pacote grande de minutos a cada um dos operadores para vender ao público com um pequeno lucro", explica ao Expresso o guia colombiano Rowan Smit Vergara. Mas quem quer comprar minutos para falar ao telemóvel? "Quem só usa o seu próprio telemóvel para receber chamadas ou quem já esgotou o plafond mensal", explica Rowan, habituado a esta cena do quotidiano colombiano, também comum na capital, Bogotá, onde os vendedores de minutos ocupam o seu espaço entre centros comerciais e cafés.
Na quarta economia da América Latina, com uma taxa de crescimento médio anual superior a 4% nos últimos anos e boa capacidade de atração do investimento estrangeiro (16,7 mil milhões de dólares [quase 12,5 mil milhões de euros] em 2013, mais 8% que no ano anterior), os indicadores económicos oficiais mostram que o PIB per capita duplicou na última década, a taxa de inflação é inferior a 2%, o desemprego ronda os 8,44% e metade da população deverá estar na classe média dentro de 10 anos.
Programa de crescimento não esquece Portugal
Há aqui um programa de crescimento económico em que Portugal não foi esquecido: a Colômbia traçou como objetivo afirmar-se, até 2016, como o sexto destino de férias dos portugueses, com uma estratégia que aposta em captar turistas que escolhem, habitualmente, outros destinos de sol e praia na América Latina, do México à República Dominicana ou Cuba.
Mas neste ciclo de crescimento económico, grandes empresas como a têxtil Leonisa, um dos maiores fabricantes de lingerie do mundo, e as exportações de banana, café, ouro, crude, carvão ou petróleos refinados convivem com pequenos negócios de rua, feitos de engenho individual, como a venda de copos de sumo de fruta, chapéus artesanais, fotografias à la minute ou, até, o velho ofício de engraxador de sapatos.
Medellín, a cidade da eterna primavera
Medellín, apresentada ao mundo como a Cidade da Eterna Primavera, pelo clima temperado do Vale de Aburrá, já foi conhecida durante anos como uma das urbes mais violentas do mundo e pelo tráfico de droga, liderado por Pablo Escobar, o narcotraficante que dominou a cidade e foi morto em 1993. Mas conquistou em 2012 o título de cidade mais inovadora, no concurso City of the Year, organizado pelo "The Wall Street Journal" e pelo Citigroup, para premiar o trabalho feito localmente nos sectores dos transportes, social, cultural e educativo. E tem ganho, também, prémios internacionais de sustentabilidade.
O teleférico que veio ligar o coração dos bairros mais pobres, a centenas de metro de altitude, à rede de Metro e ao centro urbano será o projeto mais emblemático das mudanças em curso nesta cidade, onde qualquer visita turística segue habitualmente o tema "da transformação", numa rota que mostra o centro, sem esconder que continua a haver colombianos a dormir na rua, mas também as zonas dos condomínios de luxo, os grandes centros comerciais e edifícios de vanguarda, sempre entre múltiplas referências ao "antes" e ao "depois de Escobar".
Um dos exemplos é o edifício desenhado para ser o centro de negócios de Escobar na Avenida El Poblado, dinamitado e em vias de se transformar, agora, num hotel com 135 quartos.
Um destino seguro
Ao desfolhar um qualquer guia turístico do país, é fácil encontrar, logo nas primeiras páginas, a pergunta: a Colômbia é um destino seguro? E a resposta é invariavelmente "sim". "Mesmo em comparação com os países vizinhos, a Colômbia é mais segura", refere, por exemplo, a edição do Lonely Planet dedicada à terra de Garcia Marques, Shakira, Botero e James Rodriguez, mas até há bem pouco tempo em destaque por causa dos narcotraficantes e dos problemas com os guerrilheiros das FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Por estes dias, o ex-futebolista do Porto é o protagonista escolhido pelos meios de comunicação locais, devido à transferência milionária do Mónaco para o Real Madrid, mas a popularidade de Shakira, com um recorde de 100 milhões de likes no Facebook também não é esquecida, nem a redução de 50% nas detenções por tráfico de droga ou o recorde de cinco dias sem homicídios registado em Medellín, no passado 20 de julho.
Mas a falta de mão de obra na indústria têxtil, a viver um ciclo de expansão nos últimos anos, o facto de 7,2% dos colombianos se considerar na classe alta, o que representa uma subida de 400% face a 2008, ou o anúncio de investimento de 1,3 mil milhões de dólares de seis empresas estrangeiras (Unilever, Holcim, AKT, Hero, Motocorp e Furukawa) também têm atraído a atenção dos jornais locais.