Técnicos auxiliares de saúde exigem que o Governo avance com a criação de uma carreira específica. Uma reivindicação que levou cerca de 40 trabalhadores, dirigentes e delegados sindicais do setor da saúde a concentraram-se esta, quinta-feira, junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
Há 30 anos que, todos os meses, Teresa Augusta, 48 anos, vê cair o ordenado mínimo na conta. "Neste momento a tabela única está parada. O ordenado mínimo vai subindo todos os anos, mas todos os anos há pessoas que ficam a receber apenas essa base", denuncia a técnica auxiliar de saúde no Centro Hospital das Caldas da Rainha. Diariamente, acaba por fazer de tudo um pouco, uma vez que os técnicos auxiliares continuam a não ver "escrito quais são as suas funções". "Nós somos pau para toda a obra. Nós somos senhoras da limpeza. Nós somos secretariado aos feriados, às noites e aos fins de semana. Nós somos copeiras", conta.
Teresa Augusto saiu esta quinta-feira à rua, exigindo a criação da carreira de técnico auxiliar de saúde para que sejam reconhecidos os diferentes profissionais que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS), bem como um aumento salarial, melhores condições de trabalho e a contratação de mais trabalhadores. Ao início da tarde, cerca de 40 trabalhadores, dirigentes e delegados sindicais do setor da saúde concentraram-se junto ao Ministério da Saúde, enquanto o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, e três representantes da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, estavam sentados à mesa para mais uma ronda negocial para exigir a definição da carreira e a valorização da carreira de assistente técnico
"Lutar e agir para a carreira garantir", "Negociação sim, imposição não" e "Pizarro, escuta, os trabalhadores estão em luta" foram algumas das palavras de ordem que entoaram durante a tarde na Avenida João Crisóstomo.
Pizarro retomou processo
A carreira de técnico auxiliar de saúde estava definida até 2008, ano em que estes profissionais passaram para as carreiras gerais do Estado. Já durante a última legislatura, com Marta Temido à frente da tutela, foi aberta a possibilidade de recuperar a carreira específica, e o processo foi retomado com o atual ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Embora a definição da carreira estivesse prevista no Orçamento do Estado para 2022, as negociações mantêm-se até agora.
Para Teresa Augusto, a valorização das décadas de experiência de trabalho só chegará no dia em que seja retomada a carreira especial de saúde que a diferencie e aos seus colegas dos restantes técnicos auxiliares nas escolas e autarquias. "Uma pessoa que trabalha na área da saúde tem de ter uma responsabilidade e conhecimentos diferentes de quem trabalha numa câmara. Nós temos a vida das pessoas literalmente nas mãos", aponta, alertando que sem os técnicos auxiliares de saúde o trabalho dos médicos e enfermeiros não seria possível. "É um direito que nós temos e é um dever que este país nos tem".
A falta de técnicos para conseguir responder à afluência de doentes nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) leva a que "muitos cumpram turnos extraordinários e os feriados fiquem por gozar durante anos", aponta Teresa Augusto. "O que nos move, acima de tudo, é o amor pelo outro. Nós entramos às 16 horas, chega a meia-noite e não vem a colega para nos render o turno e assim, muitas vezes somos forçados a segui-lo porque não podemos abandonar o barco", partilha Teresa Augusto.
"Neste momento, não se consegue contratar pessoas novas. É um trabalho pouco atrativo pelo valor do ordenado e porque não existe carreira. Todos os anos saem pessoas das escolas com o curso de técnico oficial de saúde, mas os formados não param nos hospitais".