Três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM) foram mortos no sábado no Sudão, durante confrontos que irromperem no meio de combates entre o exército e paramilitares, anunciou a missão da ONU no país africano.
Os funcionários do PAM "foram mortos em confrontos que irromperam em Kabkabiya, Darfur do Norte, em 15 de abril, no desempenho das suas funções", disse a missão da ONU em comunicado citado pela agência espanhola EFE.
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O representante da missão no Sudão, Volker Perthes, "condenou veementemente os ataques ao pessoal da ONU" e expressou condolências às famílias das vítimas.
Volker Perthes exprimiu "extrema preocupação" com "relatos de projéteis que atingiram as instalações da ONU" durante os combates.
Os funcionários do PAM foram mortos perto do Chade, que fechou a fronteira com o Sudão por causa da violência.
O representante da missão da ONU disse que "edifícios [dos serviços] humanitários foram atingidos e outros pilhados em Darfur", um bastião histórico das Forças de Apoio Rápido (RSF).
"Somos forçados a suspender temporariamente as nossas operações no Sudão enquanto analisamos a evolução da situação de segurança", anunciou Cindy McCain, diretora do PAM, em comunicado.
Os paramilitares das RSF envolveram-se em combates com o exército sudanês no sábado de manhã, em Cartum, mas a violência alastrou-se a outras zonas do país do nordeste de África.
Os combates, que prosseguiram este domingo de manhã, provocaram a morte de 56 civis em 24 horas, segundo um balanço citado pela agência norte-americana AP.
Os três funcionários do PAM estão entre as vítimas mortais civis.
Uma rede de médicos do Sudão disse que há dezenas de mortes adicionais entre as forças rivais, e cerca de 600 feridos, incluindo civis e combatentes.
Combates intensos envolvendo veículos blindados, metralhadoras montadas em camiões e aviões de guerra continuaram hoje em Cartum, na cidade vizinha de Omdurman e noutros pontos do país, segundo a AP.
Luta de poder entre generais
Os confrontos fazem parte de uma luta pelo poder entre o general Abdel-Fattah Burhan, comandante das forças armadas, e o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe das RSF.
Os dois generais são antigos aliados que orquestraram o golpe militar de outubro de 2021, que interrompeu a transição de curta duração do Sudão para a democracia.
Nos últimos meses, negociações apoiadas internacionalmente reavivaram as esperanças de uma transição ordeira para a democracia.
Contudo, as tensões crescentes entre Burhan e Dagalo acabaram por atrasar um acordo com os partidos políticos.
Estão a disparar uns contra os outros nas ruas
Em Cartum e Omdurman foram noticiados combates em torno do quartel-general militar, do Aeroporto Internacional de Cartum e da sede da televisão estatal, segundo a AP.
"As batalhas não pararam", disse o defensor dos direitos humanos Tahani Abass, que vive perto do quartel-general militar, citado pela AP.
"Eles estão a disparar uns contra os outros nas ruas. É uma guerra total em zonas residenciais", acrescentou.
Tanto os militares como as RSF afirmaram controlar locais estratégicos em Cartum e noutros locais, mas estas reivindicações não puderam ainda ser verificadas de forma independente.
O Sudão, com mais de 49 milhões de habitantes, situa-se junto ao Mar Vermelho, que separa o país da Arábia Saudita.
Tem fronteiras terrestres com Egito, Eritreia, Líbia, Chade, República Centro-Africana e Sudão do Sul.