As infrações cometidas durante festas realizadas em edifícios do Governo britânico durante a pandemia deveriam ser óbvias para o antigo primeiro-ministro Boris Johnson, segundo um relatório parlamentar preliminar divulgado esta sexta-feira.
A Comissão dos Privilégios Parlamentares, que está a investigar se o antigo líder Conservador mentiu ao Parlamento sobre o chamado "partygate", escreveu no documento que "as provas sugerem fortemente que as violações das regras teriam sido óbvias para Johnson na altura em que estas reuniões ilegais estavam a ter lugar".
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Johnson deverá testemunhar no inquérito conduzido pela comissão na semana de 20 de março para perceber se tinha ou não conhecimento de que as festas realizadas nos gabinetes do governo durante o confinamento imposto pela pandemia covid-19 violavam a lei.
"Há provas de que aqueles que aconselhavam Johnson sobre o que dizer à imprensa e na Câmara (dos Comuns) acharam difícil manter que algumas reuniões estavam dentro das regras [do confinamento]", acrescenta o documento divulgado hoje.
A comissão disse que também irá avaliar por que razão Johnson disse ao Parlamento que as regras não tinham sido transgredidas e porque não corrigiu as declarações na primeira oportunidade.
O antigo primeiro-ministro respondeu num comunicado que "não há provas no relatório" de que ele "conscientemente" enganou o Parlamento.
Johnson disse também ser "surreal" descobrir que a comissão "propõe confiar nas provas recolhidas e orquestradas" pela funcionária Sue Gray, "que acaba de ser nomeada chefe de gabinete do líder do Partido Trabalhista" Keir Starmer.
Funcionária pública com reputação de imparcialidade, Sue Gray ganhou notoriedade pelo seu relatório sobre o "partygate", que detalhava, com emails e fotografias, uma série de festas com bebidas alcoólicas e altercações, música, e saídas matinais pelas portas das traseiras.
O anúncio da sua saída da administração pública para se juntar ao principal partido da oposição, que as sondagens sugerem que poderá ganhar as próximas eleições legislativas, gerou acusações na imprensa conservadora de uma conspiração para derrubar Boris Johnson.
A comissão parlamentar disse que o relatório que publicou na sexta-feira "não se baseava no relatório da Sue Gray".
Se a comissão, formada por uma maioria de deputados do Partido Conservador, concluir que Boris Johnson mentiu deliberadamente, poderá penalizá-lo com a suspensão temporária do Parlamento, o que abre caminho a uma petição pública para o destituir do lugar de deputado.