A coordenadora do BE, Catarina Martins, garantiu, este domingo, que irá pedir "contas" ao Governo sobre os casos denunciados de hospitais públicos que recusam fazer interrupção voluntária da gravidez (IVG) e criticou quem "hipocritamente diz que nada sabia".
"Podemos hipocritamente ficar todos muito surpreendidos, mas em 2008 já o Bloco de Esquerda tinha feito um levantamento perguntando a cada instituição de saúde como é que estava a ser respeitado o direito das mulheres e veio a resposta a dizer que não estava a ser respeitado", disse Catarina Martins.
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No Porto, no discurso de encerramento do I Fórum LGBTQI+ que decorre desde sexta-feira na Escola Artística Soares dos Reis, a líder dos bloquistas referiu-se às notícias divulgadas no sábado pelo "Diário de Notícias" sobre hospitais públicos que violam lei do aborto e garantiu que o BE pedirá contas ao Governo.
"Aqui ninguém está surpreendido. Queremos sim pedir contas. Queremos pedir contas a um Governo que disse que ia garantir que as mulheres tinham os seus direitos respeitados e não fez nada e diz que não sabia", referiu Catarina Martins.
No sábado, questionado pela agência Lusa sobre esta situação, o Ministério da Saúde referiu que "desconhece casos concretos de recusa de atendimento" e sublinhou que "a disponibilidade de consultas de IVG no Serviço Nacional de Saúde está a ser avaliada".
Este domingo, Catarina Martins recordou que esta foi uma das lutas que deu origem à fundação do Bloco de Esquerda e lançou críticas ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro. "Tão simples quanto isso e tão complicado quanto isto. Na verdade o que foi aprovado no parlamento continua sem ser feito e temos até o ministro da Saúde que fica surpreendido porque não sabia que no Serviço Nacional de Saúde há serviços que não estão a cumprir com a lei", criticou.
Dirigindo-se ao público que antes tinha partilhado vários testemunhos relacionados com LGBTQI+, Catarina Martins usou expressões como "humilhação" e "falta de respeito" para se referir ao tema da IVG e aos alegados incumprimentos e dedicou o discurso às "lutas pela dignidade, pela igualdade e pela liberdade" que, disse, "têm de ser feitas todos os dias". "Perguntam porque é que há tantas letras. Estão a dividir-se, quando a luta é a mesma. Sim, a luta é a mesma, mas as opressões são tantas, as opressões têm tantas formas. E cada uma das letras desvenda uma das formas da opressão que ainda não está desvendada e que tem de ser desvendada para ser combatida. Haverá as letras que tiver de haver para dar visibilidade a todas as lutas e para desmascarar todas as opressões", prometeu.
Lembrando, ainda, que no sábado participou na manifestação que levou a Lisboa milhares de professores, Catarina Martins disse que lutar pela Escola Pública "é lutar para que todas as pessoas tenham lugar e todas as pessoas tenham direitos".
Já, num pequeno apontamento dedicado às polémicas em volta da TAP, Catarina Martins terminou o discurso com uma análise ao que chamou de "economia de privilégio". "Não nos enganemos. Estamos a viver tempos de enorme desigualdade. Aqui foi feito o apelo para que estejamos presentes com todas as cores das nossas lutas em todas as lutas que ai vêm. Fazemos lutas contra a economia de privilégio. Por estes dias a notícia foi que o David Neeleman comprou a TAP com o dinheiro da própria TAP. A Direita sabia e deixou acontecer. Para quem tem milhões vale tudo. Para quem vive do seu trabalho nunca há nenhuma regra que proteja", concluiu.