Uma adolescente britânica morreu depois de inalar desodorizante em spray. Os pais querem agora uma rotulagem mais clara dos produtos, de forma a alertar as pessoas para potenciais perigos.
Giorgia Green, 14 anos, da cidade inglesa de Derby, foi encontrada inconsciente pelo irmão no quarto, em maio passado. Teve uma paragem cardíaca depois de borrifar o desodorizante que usava no espaço. A causa da morte foi dada como "não determinada, mas consistente com a inalação de aerossol".
A jovem, diagnosticada com perturbação do espetro do autismo, gostava de borrifar desodorizante no quarto por achar o cheiro reconfortante. "Se estivesse a sentir-se ansiosa, borrifava o spray e isso dava-lhe uma sensação de conforto porque é um desodorizante que a minha mulher usava", conta o pai, citado pela BBC. Mais de meio ano depois do acidente, Paul Green faz críticas à rotulagem dos produtos em aerossol e apela à consciencialização em torno de uma questão que considera subvalorizada.
"Advertências muito claras"
A "British Aerosol Manufacturers' Association" (BAMA), associação comercial do Reino Unido que representa empresas envolvidas na cadeia de fornecimento de aerossóis, indica que os desodorizantes em spray têm "advertências muito claras" e que devem conter instruções sobre a correta utilização, que são redigidas após avaliações de risco realizadas pelo fabricante.
Por lei, os produtos em causa devem ter impresso o aviso "manter fora do alcance das crianças" e, embora não seja um requisito legal mas sim apenas uma recomendação da BAMA, a maioria dos desodorizantes em aerossol também alerta que "o abuso da substância pode matar instantaneamente".
Além de criticar o facto de a inscrição apresentada ser demasiado pequena, acabando por passar despercebida, o pai de Giorgia apela a que a palavra "abuso" seja substituída por "uso", uma vez que a filha não fez uma utilização abusiva do produto, diz. "As pessoas não sabem o quão perigoso pode ser o conteúdo dessas latas. Gostava que mais ninguém no país ou no mundo acabasse por ter de passar pelo que passámos. Não queremos que a morte da nossa filha seja em vão", justifica, explicando que, no caso que vitimou a filha, "a porta estava aberta, não era propriamente um ambiente fechado".
Substâncias de desodorizantes associadas a centenas de mortes
De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, o termo "desodorizante" foi mencionado em 11 certidões de óbito entre 2001 e 2020, sendo provável que o número real de mortes seja superior, devido ao facto de nem sempre haver referência a substâncias específicas nas certidões, como na de Giorgia, cuja morte foi associada a "inalação de aerossol" em vez de "desodorizante".
O butano, principal ingrediente do produto usado por Giorgia, foi registado como envolvido em 324 mortes entre 2001 e 2020. Propano e isobutano, também presentes no desodorizante, foram mencionados em 123 e 38 mortes. "A inalação de gás butano ou propano pode levar à insuficiência cardíaca", observa o instituto.
De acordo com a BBC, a "Royal Society for the Prevention of Accidents", principal instituição na área da prevenção de acidentes do Reino Unido, também diz que a pulverização excessiva de desodorizantes pode provocar a morte.