O presidente da República deixou, este domingo, um sério aviso ao Governo: se o país não voltar a ter "estabilidade política" já em 2023, poderá comprometer "irreversivelmente" os objetivos para a década. Na sua mensagem de Ano Novo, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu o ano de 2023 como "decisivo": caso seja desperdiçado, "de nada servirá a consolação de nos convencermos de que ainda temos 2024, 2025 e 2026", atirou, numa alusão aos restantes anos da maioria absoluta do PS.
"Está ao nosso alcance tirar proveito de uma vantagem comparativa, que é muito rara na Europa e no mundo democrático, e que se chama estabilidade política", afirmou o chefe de Estado, numa mensagem de cerca de oito minutos. "Ademais, [tendo] um Governo de um só partido com maioria absoluta - mas, por isso mesmo, com responsabilidade absoluta", reforçou.
Marcelo alertou que "só o Governo e a sua maioria podem enfraquecer ou esvaziar" a estabilidade política. E, sem se referir às onze demissões em nove meses de Executivo - três das quais na última semana -, enumerou alguns dos motivos que, a seu ver, comprometem essa estabilidade: "erros de orgânica", descoordenação, fragmentação interna, inação, falta de transparência e "descolagem da realidade".
No entender do presidente, 2023 pode vir a ser "o ano mais importante até 2026, se não mesmo até 2030". E, num contexto marcado pelos efeitos da guerra da Ucrânia e pelo rescaldo da pandemia, a estabilidade política é o principal parâmetro que depende exclusivamente do Governo, considerou.
Pandemia, crescimento e fundos "irrepetíveis"
Nos últimos dias, a contestação ao Governo subiu de tom e levou o Chega a pedir que Marcelo dissolva o Parlamento, convocando eleições antecipadas. O presidente já informou que não o fará mas, nesta mensagem de Ano Novo, deu ao Executivo o prazo de um ano para se regenerar. 2023 é "decisivo" e "tem de ser um ano ganho", avisou.
O chefe de Estado avisou que, "se perdermos" o ano que agora começa, "de nada servirá a consolação de nos convencermos de que ainda temos 2024, 2025 e 2026 pela frente. Um ano perdido compromete irreversivelmente os anos seguintes, até porque [2023] será o último ano até 2026 sem eleições", recordou, frisando que 2024, 2025 e 2026 terão campanhas eleitorais constantes.
"Já basta o que não depende de nós para nos preocupar ou amargurar. Não desperdicemos o que só de nós depende", pediu o presidente. E, depois de a guerra ter comprometido a recuperação económica pós-pandemia, agora "é tempo de voltar a sonhar", vincou, referindo que o país está "obrigado a evitar" que 2023 "seja pior do que 2022".
Além da questão da estabilidade política, Marcelo também espera que o Governo ajude a prevenir "o risco do regresso da pandemia", contribua para estimular o turismo, atraia mais investimento estrangeiro e execute os fundos europeus a tempo. Este último tópico foi repetidamente mencionado ao longo do discurso, com o presidente a lembrar que estes auxílios são "irrepetíveis".
"Tudo isto está ao nosso alcance e nunca me cansarei de insistir que seria imperdoável que o desbaratássemos", afirmou.