Quase onze mil pessoas morreram por causas violentas na Venezuela durante 2022, segundo dados divulgados hoje pelo Observatório Venezuelano da Violência, que regista uma pequena descida em relação a 2021.
Segundo o OVV os números comparativos globais da violência no país "não têm quase diferença" com relação ao ano anterior, apesar da emigração de venezuelanos, mas está a aumentar o número de "mortes em averiguação" cuja motivação não foi determinada, inclusive quando resultante do uso de armas.
RELACIONADOS
Orçamento do Estado. Quatro milhões de militares na Venezuela? ONG desmente
Venezuela. Luso-venezuelano condenado a 30 anos de prisão por tentar matar Maduro
Venezuela. Milhares de pessoas correm em Caracas em protesto pela violência contra mulheres
"Em 2022, 10.737 pessoas morreram por causas violentas, para uma taxa de 40,4 por 100 mil habitantes, em comparação com as 11.081 (40,9 por 100 mil) registadas em 2021", explicou o presidente da OVV.
Segundo Roberto Briceño León, em 2022 houve 2.328 homicídios na Venezuela, 1.240 mortes por intervenção policial, 1.370 desaparecimentos de vítimas cujos corpos não foram encontrados e 5.799 mortes estão em averiguação.
Em 2021, a Venezuela registou 3.112 homicídios, 2.332 mortes por resistência à autoridade, 1.634 desaparecimentos e ficaram 4.003 mortes em averiguação.
"Em 2022 houve uma média de 26 mortes violentas por dia, 180 por semana e 781 por mês. Em termos de mortes devidas à intervenção policial, houve 3,39 mortes por dia por ação policial ou militar, 23,8 por semana e 103 por mês", apontou o presidente do OVV.
Segundo Roberto Briceño León, "a tendência decrescente das mortes violentas experimentadas em anos anteriores travou em 2022".
"Não houve variações no nível de violência e criminalidade, o que pudemos observar foi uma modificação na composição interna da classificação das mortes violentas levada a cabo pelas autoridades e pela investigação criminal. Os casos de homicídios ou mortes devido à intervenção policial diminuiu e aumentaram significativamente as mortes sob investigação, que poderiam ser homicídios, ou vítimas de intervenção policial, que não foram investigados, nem tiveram os processos penais correspondentes", explicou.
Roberto Briceño León denunciou que há uma "censura prolongada" no país e chamou a atenção que as mortes por causa indeterminada representam 62% das mortes registadas no país, apesar de os protocolos internacionais fixarem 10% como máximo aceitável.
"Em 2022 houve pelo menos 1.370 desaparecimentos. Isto significa que na Venezuela desaparecem 3,75 pessoas por dia", sublinhou.
Os dados do OVV dão conta que o Distrito Capital, com 89 mortes violentas por cada 100 mil habitantes, é a região venezuelana mais violenta, seguindo-se La Guaira (62), Miranda (54), Bolívar (50), Carabobo (47), Guárico (44), Anzoátegui (41), Delta Amaracuro e Arágua (ambas com 39 cada).
Seguem-se os estados de Amazonas (38), Zúlia e Trujillo (35 cada), Mérida (31), Apure e Falcón (cada um com 29), Táchira e Barinas (27 cada), Suce (26), Yaracuy e Nueva Esparta (24 cada), Cojedes (23) e Lara (19).
Por outro lado, o maior número de mortes por intervenção policial registou-se em Miranda (261 vítimas), Arágua (186), Zúlia (154) e Carabobo (122), "mostrando a persistência de um padrão de atuação policial ilegal e violador dos Direitos Humanos".