Os ataques com drones efetuados desde 2014 pelo exército dos EUA na guerra contra grupos 'jihadistas' no Afeganistão, Iraque e Síria foram mal preparados e executados, provocando milhares de vítimas civis, indicou um novo inquérito divulgado este sábado.
Este inquérito, divulgado pelo "New York Times" e baseado em 1.300 relatórios do Pentágono sobre incidentes que provocaram vítimas civis - obtidos pelo diário norte-americano no âmbito da lei sobre a transparência nas administrações (FOIA, na sigla inglesa) -, compromete a imagem de "guerra limpa" através de "ataques de precisão" e regularmente divulgados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
"A guerra americana foi assinalada por informações defeituosas, disparos de mísseis prematuros e imprecisos, e a morte de milhares de civis, incluindo numerosas crianças", concluiu o jornal. "Nem um único relatório implicou uma penalização ou sanção disciplinar".
Os documentos demonstram que as mortes de civis foram com frequência motivadas por "deficiência de confirmação", a tendência de extrair conclusões em conformidade com o que se considera provável, segundo o New York Times.
As pessoas que afluíam a um local bombardeado eram consideradas combatentes do grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI), e não como socorristas. Os simples condutores de motorizadas eram identificados como uma coluna "em formação", e interpretada como a "assinatura" de um ataque iminente.
As promessas de transparência do período de Barack Obama, o primeiro Presidente a privilegiar os ataques de 'drones' para preservar a vida de soldados norte-americanos, foram substituídas pela "opacidade e a impunidade", acrescenta o diário, que moveu várias solicitações dirigidas ao Pentágono e ao comando geral das Forças Armadas dos EUA (Centcom) para obter estes documentos.
Diversos dos casos mencionados já eram conhecidos, mas o inquérito demonstra que o número de vítimas civis admitidos pelo Pentágono foi "claramente subestimado".
Desde o começo das operações na Síria e no Iraque contra o EI em 2014, a coligação internacional reconheceu, num relatório publicado em agosto, "que pelo menos 1.417 civis foram acidentalmente mortos na sequência dos 'raides' da coligação desde o início" das suas operações nos dois países.
Citado pelo "New York Times", o porta-voz do Centcom, comandante Bill Urban, indicou que "mesmo com a melhor tecnologia do mundo, registam-se erros, seja devido a informações erradas ou a uma má interpretação das informações disponíveis". "Tudo fazemos para evitar fazer coisas erradas, investigamos todos os casos credíveis. E lamentamos a perda de cada vida inocente", disse.