Bastonário dos Médicos critica inércia das autoridades e alerta para perigo de aumento de agressões a profissionais.
A médica do Centro de Saúde de Santo António e Laranjeiro, em Almada, agredida a soco por uma doente esta quarta-feira já prestou declarações à Justiça.
Eugénia Cheptene, que sofreu ferimentos na cabeça e numa orelha, foi chamada pelo procurador do Ministério Público (MP) de Almada menos de 24 horas após o incidente, que motivou fortes críticas quer da Ordem dos Médicos, quer dos sindicatos do setor contra a inação das autoridades e da tutela.
A profissional do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Almada-Seixal, que já estará a ter apoio psiquiátrico devido à agressão - apurou o JN -, esteve esta quinta-feira ao final do dia no Tribunal de Almada, onde foi ouvida pelo procurador do MP.
A agressora, uma mulher de 39 anos e residente no Laranjeiro, foi identificada pela PSP mas não foi detida, tendo em conta que o ataque que desferiu contra a médica de família, dentro do centro de saúde, não foi assistido pelas autoridades.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), esta violência "não pode ser admitida de forma alguma", criticando o facto de "as autoridades competentes" optem por ficar "pelos lamentos e pouco ou nada fazerem para evitar que estas situações se repitam".
"Se não forem tomadas medidas exemplares contra quem agride, o sentimento de impunidade alastra", alertou Miguel Guimarães, que avisou ainda para o perigo do aumento da "conflitualidade" entre doentes e médicos, se não for mudada "a estratégia seguida na pandemia".
Também o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS), que disponibilizou apoio jurídico à profissional agredida, frisou que este não foi "um caso isolado" e que o "contexto pandémico" acabou por "acentuar de forma acelerada" nas unidades de saúde "a falta de condições de segurança".
"Há um enorme risco deste tipo de violência numa segunda fase da pandemia, em que tudo pode ser mais exigente e grave. Os doentes não compreenderão os adiamentos e atrasos de consultas e cirurgias, por os médicos estarem com diversas funções, desde a triagem à porta dos centros de saúde à Trace-covid (acompanhamento de casos)", disse, ao JN, Tânia Russo, do SMZS, que associa ao enorme volume de trabalhos dos médicos "uma política de desinvestimento".
De 52 anos, a vítima sofreu puxões de cabelos e socos na cabeça e na cara, tendo ficado sem os óculos, quando fazia a triagem à doente, que exigiu uma consulta para o próprio dia e uma justificação de falta para a filha.
REAÇÃO
Sindicato quer rever obrigação de flagrante delito
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou que vai pedir uma reunião urgente à PSP, perante a urgência de se rever o "flagrante delito" nestes casos, em que a agressora só foi identificada. "Se em vez de uma profissional de saúde tivesse sido uma senhora procuradora ou juíza...", ironizou Roque da Cunha, líder do SIM.