Um ex-agente da polícia federal dos EUA (FBI, na sigla em Inglês), que escreveu mensagens críticas sobre Donald Trump, processou a entidade, acusando-a de cedência à "pressão incessante" do presidente, que conduziu ao seu despedimento.
Nos seus argumentos, Peter Strzok também alegou ter sido punido por expressar opiniões políticas e que o Departamento de Justiça violou a sua privacidade, quando partilhou centenas das suas mensagens eletrónicas com a imprensa.
"A campanha para vilipendiar o agente especial Strzok contribuiu para a decisão ilegal de o despedir", afirmou-se no texto, "bem como para os frequentes incidentes de assédio público e em linha e as ameaças de violência dirigidas a Strzok e à sua família, que começaram quando os textos foram revelados à comunicação social e continuaram até aos dias de hoje".
A queixa, que visa o equivalente a ministro da Justiça, William Barr, e o diretor do FBI, Chris Wray, revisita uma crise política, que foi aproveitada pelos conservadores críticos da investigação, conduzida pelo procurador especial Robert Mueller, à interferência da Federação Russa nas eleições presidenciais, para afirmarem que o inquérito estava enviesado contra Trump.
Estão em curso várias investigações sobre a atuação do FBI durante esta investigação e Strzok continua a ser um alvo frequente de Trump nos textos que divulga na rede social Twitter.
O Departamento de Justiça e o FBI não responderam a pedidos de comentários.
O processo revela novos detalhes sobre as circunstâncias que conduziram ao despedimento de Strzok e é a mais recente defesa da sua reputação.
A sua apresentação ocorre depois de uma escaldante audição parlamentar, na qual insistiu que as suas opiniões pessoais nunca influenciaram o seu trabalho profissional.
Strzok, um veterano agente da contrainformação, que participou nas investigações do FBI ao uso indevido do correio eletrónico por Hillary Clinton, por recurso a um servidor privado, e às ligações entre a campanha de Trump e dirigentes russos, foi removido da equipa de Mueller, depois de serem divulgados as suas mensagens de correio eletrónico com uma advogada do FBI, Lisa Page. Foi despedido do FBI em agosto do ano passado.
Muitos dos seus textos sobre Trump durante a campanha eleitoral de 2016, nos telemóveis do FBI, eram cáusticos. Foram encontrados pelo inspetor-geral do Departamento de Justiça durante a sua investigação ao inquérito do FBI sobre o uso de correios eletrónicos por Clinton.
O inspetor-geral criticou tanto Strzok como Page, com quem aquele tinha uma relação, pela sua decisão de enviarem as mensagens, mas não concluiu que tivesse havido qualquer enviesamento político comprometedor da investigação a Clinton.
No processo, o advogado de Strzok, Aitan Goelman, adiantou que o subdiretor-geral do FBI que o despediu fê-lo devido a uma "pressão incessante do Presidente Trump e aos seus aliados políticos no Congresso e na comunicação social".
Este subdiretor-geral, David Bowdich, ignorou a recomendação disciplinar de despromoção de Strzok e suspensão sem pagamento e negou-lhe inclusive a possibilidade de recurso.
Na queixa adiantou-se que a campanha para despedir Strzok incluiu "constantes mensagens na rede social Twitter e doutras declarações depreciativas" de Trump, bem como apelos diretos deste a Wray e ao antecessor de Barr, Jeff Sessions, para despedir Strzok.
No processo acusa-se também a Casa Branca de discriminação, uma vez que, por exemplo, uma assessora de Trump, Kellyanne Conway, não foi despedida, apesar de se ter provado que violou a Lei Hatch, que limita a atividade política de assessores, ao aviltar vários candidatos presidenciais democratas, apesar de falar na sua qualidade de assessora presidencial.
"O governo de Trump tem tolerado de forma consistente e até encorajado discursos políticos por parte dos seus colaboradores, enquanto estes discursos forem favoráveis a Trump e críticos para com os seus adversários", salienta-se no processo.