Nem a destruição de paredes de apartamentos contíguos aos seus à marretada, nem a visita histórica do presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, demoveram os últimos 11 moradores do prédio Coutinho da sua luta.
Permanecem já há cinco dias nas suas habitações, agora sem água, gás, luz e eletricidade. Têm à sua espera 1,2 milhões de euros em indemnizações, a dividir em partes iguais por seis frações (T3) ou apartamentos em dois edifícios na cidade. Mas resistem.
Da parte do autarca vianense e da sociedade VianaPolis que tem a demolição do imóvel de 13 andares projetada desde o ano 2000, não há sinais de quererem avançar com o despejo compulsivo. Após a ida de José Maria Costa ao prédio, o advogado Vellozo Ferreira disse, no entanto, que "está aberta a porta do diálogo". "Não sabemos o que é que vai dar, mas é um diálogo e esperemos que seja positivo", declarou, depois de reunir com os moradores.
O prazo para saída voluntária terminou na segunda-feira às 9 horas. Face à sua resistência, no próprio dia a VianaPolis cortou a água. Nos dias seguintes o gás, as telecomunicações e a luz, e bloqueou elevadores. Vedou a entrada de comida, água ou quaisquer bens, assim como de familiares.
Esta sexta-feira, até os advogados foram impedidos de entrar, até que às 16 horas, o autarca de Viana, entrou pela primeira vez primeira vez no prédio Coutinho, em 19 anos de luta dos moradores. Foi recebido em quatro das seis frações que permanecem ocupadas. E disse, ao fim de cerca de hora e meia no interior do edifício, que conseguiu, pelo menos, "um pré-acordo" com um dos casais resistentes. Explicou que a proposta foi, tal qual fizeram com a família Coutinho (do construtor do prédio), contratarem uma empresa e dar um prazo mais alargado para permitir que aqueles moradores possam mudar os seus bens. "Alguns moradores estão mais renitentes, mas pelo menos eu fiquei com a consciência de que fiz tudo, tudo, o que estava ao nosso alcance para que as pessoas saiam a bem e, sobretudo, a VianaPolis quer que as pessoas saiam com dignidade", declarou à saída José Maria Costa, que depois reuniu com os advogados. Estes viram então a sua entrada autorizada no prédio Coutinho.
A VianaPolis quer que as pessoas saiam com dignidade
A expropriação das 105 frações do prédio Coutinho começou em 2006 e foi sempre contestada nos tribunais pelo habitantes do edifício. As ações, algumas ainda em curso, resultaram sempre com decisões favoráveis à sociedade Polis de Viana.
Nesta sexta-feira, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, declarou que o imóvel já é pertença do Estado e apelou aos moradores que abandonem o edifício. "De facto as pessoas não podem estar ali. O prédio é um edifício público, que foi expropriado e tem que começar a ser desconstruído", disse, deixando o apelo: "Têm à sua espera uma casa, se por ela optarem, e não é uma casa num bairro periférico da cidade. É uma casa ali ao lado. Ou então que levantem a indemnização, que está à ordem do Tribunal há vários anos. Foram fixadas pelo Tribunal. Já não há mais aqui para negociar".