Um médico alertou, na quarta-feira, para existência de um "problema de saúde pública" no Edifício Jardim (prédio Coutinho) em Viana do Castelo.
O clínico que visitou os 11 resistentes ao despejo, a pedido do advogado dos moradores, traçou um cenário crítico da situação em que vivem as pessoas que se mantêm no interior do imóvel. "O estado geral dos moradores é de ansiedade, de incerteza e medo do futuro. Há também razões de fundo para se sentirem desconfortáveis. Há um problema de saúde pública, que é o facto de cortarem a água. Estão a ver a dificuldade que é as pessoas não poderem cozinhar ou até fazerem a sua higiene", declarou o médico Costa e Silva aos jornalistas, alertando: "E depois há um problema muito sério de uma senhora que depende de uma máquina de respiração, porque poderá ter crises em que necessita de apoio respiratório e se cortarem a luz pode ser fatal".
Onze pessoas, as mesmas que se recusaram a sair na segunda-feira, continuam a resistir no interior do imóvel, apesar dos cortes da água e do gás, e da mudança das fechaduras das entradas principais. Cinco frações de quatro proprietários descontentes, mas que não já não estavam a morar no prédio, foram seladas entretanto pela sociedade VianaPolis.
"Desde segunda-feira, a VianaPolis selou o acesso a todos os apartamentos que não estão habitados", disse o advogado dos moradores Magalhães Sant'Ana, explicando: "Neste momento há seis frações habitadas onde residem onze pessoas, e depois há mais algumas (cinco) que estão a ser disputadas e em que as pessoas não obstante não as habitarem, estão descontentes. Perderam o acesso às suas habitações". "As pessoas que se mantêm nas suas frações, não têm as fechaduras mudadas, mas estão impedidas de sair, porque se saírem não voltam a entrar", acrescentou.
No total, o imóvel de 13 andares é composto por 105 frações, que em 2000, aquando do anuncio da demolição que está a ser contestada, eram habitadas por cerca de 300 pessoas. Recorde-se que, na segunda-feira, dia em que foi iniciado o despejo forçado, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, anunciou: "Recorreremos a todos os meios que estão dentro da lei para tomarmos posse de algo que é nosso, que é do Estado".
No prédio mantém-se ainda esta tarde ligada a eletricidade. "As pessoas estão serenas, a aguardar as decisões dos tribunais. E creio que a eletricidade não será interrompida porque isso seria uma situação muito gravosa, diria até dolosa, porque o risco que isso pressupõe para as pessoas que lá habitam é tremendo", comentou Magalhães Sant'Ana, que aguarda ainda comunicação do Tribunal Administrativos e Fiscal de Braga (TAFB) sobre se será aceite uma providencia cautelar que intentou anteontem para tentar travar o despejo forçado. "Estou à espera. Provavelmente amanhã haverá uma decisão", disse.
Ontem o advogado anunciou que o mesmo tribunal aceitou um processo de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias. A VianaPolis terá cinco dias para responder, antes de o tribunal emitir uma decisão. "Julgo que o prazo terminará na segunda-feira", adiantou.
O Jornal de Notícias tentou esta quarta-feira contactar a VianaPolis e o presidente da Câmara de Viana do Castelo, mas sem êxito.
Recorde-se que a VianaPolis, sociedade gestora do programa Polis, mantém há 19 anos intenção de demolir o imóvel. A expropriação do prédio tem sido um longo calvário, com os 300 moradores iniciais a sair a conta-gotas. E uma persistente luta judicial por parte de quem não quer abandonar as suas habitações.