Uma criança alemã de sete anos conseguiu escapar de um cenário de violência numa caverna de Tenerife: à sua frente, o pai agredia a mãe. A mulher não resistiria ao espancamento. Seguiu-se-lhe o filho de dez anos. Ambos foram encontrados mortos, quarta-feira, depois de o pequeno ter denunciado um crime que está a chocar Espanha. E o pai foi detido.
Jonas Handricks tem sete anos. O acaso permitiu-lhe fugir quando ouviu a mãe gritar e viu sangue. Estavam os dois com o irmão mais velho e o pai, Thomas, 43 e origem alemã, numa caverna de Adeje, na ilha canarina de Tenerife, para onde foram atraídos por "doces de páscoa", naquela que deveria ser, aos olhos do menino, uma excursão feliz. Era terça-feira. Chegara no dia anterior da Alemanha, onde vive com o irmão e a mãe, Shylvia, para visitarem o pai, residente em Adeje e separado da mulher. Era costume, apesar da separação, que tinham decidido esconder aos filhos.
Jonas fugiu e foi encontrado, cinco horas depois, a vaguear na natureza, sujo e arranhado, por caminhantes. Levado à esquadra local, seria traduzido por uma vizinha. E foi a ela que contou que o pai organizara a excursão e até alugara um carro "azul" para levá-los para um piquenique. Chegado à zona escarpada do Barranco do Burro, estacionou e disse que escondera uma lembrança de Páscoa para os meninos num recanto da montanha. Chegados à caverna, terá começado a agressão. Shylvia, de 39 anos, terá sido o primeiro alvo da violência. Segundo o testemunho da vizinha, Jonas fugiu ainda ela estaria viva, dado que o menino parece não saber que a mãe morreu. A investigação parece apontar para que o homicídio da mulher tenha acontecido à frente do filho mais velho, que seria a segunda vítima da fúria do agressor, cozinheiro e sem denúncias anteriores.
"É mais importante viver do que os doces da Páscoa", justificou Jonas, quando contou a fuga à vizinha, a quem pediu para guardar uma guloseima para o irmão.
Thomas seria detido em casa, onde foi encontrado a dormir, como se nada tivesse acontecido. E reagiu com brutalidade, recusando indicar onde estava a família. Entretanto, dois helicópteros e uma centenas de pessoas varreram a zona onde o menino foi encontrado, à procura de algo que não julgaram ser tão monstruoso.