O ministro dos Negócios Estrangeiros esclareceu, esta segunda-feira, que Portugal continua a trabalhar para encontrar "a menos má das soluções" para cidadãos portugueses com ligações aos jiadistas, mas que os pedidos de repatriamento que recebeu "não eram apenas de crianças".
Em declarações aos jornalistas à margem de uma reunião de chefes de diplomacia da União Europeia, no Luxemburgo, Augusto Santos Silva disse ainda não ter "informação oficial" da notícia da morte de uma das crianças de ascendência portuguesa, mas admitiu que, num cenário "infelizmente" com tantas vítimas, é possível, e, a confirmar-se, trata-se de "um triste desenlace".
Relativamente à questão do repatriamento de cidadãos de nacionalidade portuguesa com ligações ao autoproclamado Estado Islâmico, e que se encontram retidos em campos de refugiados, Santos Silva fez questão de esclarecer que o Governo, quando sublinha a necessidade de acautelar a segurança nacional, não está a "considerar crianças de dois, quatro ou cinco anos como ameaças", ao contrário do que "por vezes se sugere".
"Naturalmente que não é isso. O que pode constituir uma ameaça à segurança nacional é o facto de pessoas que voluntariamente participaram em organizações terroristas ou se associaram a essas organizações terroristas poderem regressar ao nosso país sem garantias de que essas suas decisões do passado são do passado e no passado ficaram", declarou.
No mesmo sentido, o ministro refutou que Portugal esteja "a agir de forma diferente do que agiram por exemplo França e Alemanha", como alguns alegam.
"Eu chamo a atenção para que, até agora, nas duas operações de repatriamento de que há notícia pública - uma conduzida por autoridades francesas e outra conduzida por autoridades alemãs -, em ambos os casos foram repatriadas crianças. E recordo que, dentro do meu conhecimento, nenhuma das responsáveis por crianças de nacionalidade portuguesa que estão em campos de refugiados no Iraque até agora admitiu autorizar o repatriamento das crianças sem que com elas viessem as respetivas mães ou outros responsáveis parentais", apontou.
"No caso português, os pedidos de repatriamento que nós recebemos não eram apenas de crianças", reforçou o ministro, que se escusou a tornar públicas mais informações sobre o trabalho que está a ser desenvolvido por Portugal, interna e externamente, pois tal poderia "pôr em questão" tudo o que está a ser feito.
Santos Silva já dissera em março passado ser público o caso de duas cidadãs portuguesas - retidas num campo na Síria, depois de capturadas pelas forças curdas ao grupo terrorista, ao qual se terão juntado involuntariamente por seguirem familiares -, que pediram auxílio às autoridades portuguesas.
Na ocasião, o ministro dos Negócios Estrangeiros sublinhou a complexidade desta questão, porque, por um lado, o Estado deve prestar proteção aos nacionais, mas, por outro, não quer em Portugal "pessoas que possam constituir uma ameaça".