O Governo português vai "sensibilizar" o executivo francês para as vantagens de manter o português como prova específica de acesso ao ensino superior, disse este sábado fonte governamental portuguesa.
"Entendemos a política francesa de dar relevância às línguas que comunicam em termos de fronteira com a França - estritamente podemos dizer que o português também comunica, já que a Guiana francesa faz fronteira com o Brasil - mas há uma realidade de uma comunidade portuguesa extremamente numerosa, bem integrada e que tem dado muito à França. Iremos sensibilizar o Governo francês de que o esforço que pode ser feito, será compensado pelos portugueses e lusodescendentes em França", disse João Sobrinho Teixeira, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, à Lusa.
O governante, que esteve este sábado em Paris para promover as universidades portuguesas junto dos lusodescendentes, foi interpelado por membros da comunidade portuguesa sobre o facto de a reforma do ensino em França ter retirado o português como língua que serve de prova específica do acesso à universidade, dando à língua portuguesa o estatuto de língua rara, e mantendo apenas o inglês, alemão, espanhol e italiano.
Para o embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, trata-se de um "passo atrás" para a comunidade portuguesa.
"A reforma do ensino francês representa um passo atrás quando o português é considerado uma língua rara, para além de outros aspetos que representam o desincentivo de uma terceira língua estrangeira que era uma das vias para que o português se tornasse uma opção normal na escola", disse o diplomata em forma de resposta à plateia.
Segundo Jorge Torres Pereira, caberá ao Estado francês responsabilizar-se pela normalização do ensino de português em França, não só para os portugueses e lusodescendentes, mas também para os franceses, já que representa uma mais-valia para todos.
Recentemente, a Associação para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros, Africanos e Asiáticos Lusófonos (ADEPBA) lançou uma petição na Internet para tentar reverter este aspeto da reforma do ensino francês, falando mesmo numa discriminação em relação à língua de Camões.
A reforma do liceu em França arranca em setembro próximo e abrange os alunos que vão entrar para o equivalente português dos 10.º e 11.º anos de escolaridade, tendo impacto nos exames nacionais de 2021.