O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, criticou, na quarta-feira, aqueles que promoveram o Brexit sem um plano para garantir uma saída segura do Reino Unido da União Europeia, reservando-lhes um lugar no Inferno.
Com um semblante inusualmente carregado, Donald Tusk proferiu um discurso duro, que concluiu como uma crítica aos responsáveis pela saída do Reino Unido do bloco comunitário: "Tenho-me questionado como será o lugar especial no inferno reservado àqueles que promoveram o Brexit sem terem sequer um esboço de um plano para realizá-lo em segurança".
O referendo, realizado em 23 de junho de 2016, foi convocado pelo então primeiro-ministro David Cameron para tentar calar as críticas dos eurocéticos, mas saldou-se numa inesperada vitória do Brexit, com 51,9% dos eleitores britânicos a votarem pela saída do bloco comunitário.
No início do seu discurso, o presidente do Conselho Europeu já tinha descartado taxativamente quer a renegociação do acordo de saída, quer a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE).
"Faltam 50 dias para o Reino Unido deixar a UE, na sequência da vontade das autoridades britânicas. Sei que ainda há um grande número de pessoas no Reino Unido, assim como na Irlanda, que desejam uma revogação desta decisão. Sempre estive convosco com todo o meu coração. Mas os factos são claros: neste momento, a posição pró-Brexit da primeira-ministra britânica e do líder da oposição exclui esta possibilidade", assumiu, no final de uma reunião com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, em Bruxelas.
Defendendo que, neste momento, não existe vontade política em Londres para que o Reino Unido fique na União Europeia (UE), Donald Tusk considerou que "a tarefa mais importante" agora é evitar um cenário de não acordo.
"A posição dos 27 é clara, estando expressa nos documentos acordados com o Governo britânico, ou seja, no acordo de saída e na declaração política da relação futura, e os 27 não farão qualquer nova oferta. Deixem-me vincar que o Conselho Europeu de dezembro decidiu que o acordo de saída não será alvo de uma renegociação", sublinhou.
O político polaco, que irá receber Theresa May na quinta-feira, espera ouvir da primeira-ministra britânica "uma solução realista" para resolver o impasse em que se encontra o processo de saída ordenada do Reino unido da UE depois de o parlamento britânico ter votado, em 29 de janeiro, uma proposta que preconiza a substituição do backstop inscrito no acordo de saída do Reino Unido da União Europeia por "disposições alternativas", com vista à ratificação daquele texto pela Câmara dos Comuns.
"A nossa principal prioridade continua a ser o tema da fronteira na ilha da Irlanda e a manutenção do processo de paz, em linha com os acordos de Sexta-feira Santa. Não há lugar para especulação aqui. A UE é acima de tudo um projeto de paz, não brincaremos com a paz, nem lhe colocaremos um prazo de validade na reconciliação", afiançou.
Naquela que foi a sua primeira declaração pública após a votação na Câmara dos Comuns, Tusk disse acreditar firmemente que ainda é possível encontrar uma solução para evitar a saída desordenada do Reino Unido do bloco comunitário, comprometendo-se a fazer "tudo" o que estiver ao seu alcance para o assegurar.
"Contudo, o sentido de responsabilidade diz-nos para nos prepararmos para um eventual fiasco. O primeiro-ministro irlandês e eu falamos das ações necessárias no cenário de um não acordo", indicou.