Tal como no ano anterior, faço questão de corresponder ao simpático convite do Jornal de Notícias para escrever duas palavras acerca do Natal de 2018. Ou, ao menos, pela quadra natalícia.
É difícil falar em Natal, seja qual for a crença de cada um de nós, sem evocar paz, fraternidade, compreensão, diálogo, espírito de família, mais ou menos ampla.
Ora, este ano continua a haver quem não possa compartilhar esses e outros valores ou viver efetivamente essas dimensões da existência comunitária, lá fora como cá dentro.
Persistem ou agravam-se conflitos em várias regiões do Mundo, os chamados grandes do universo persistem em disputas comerciais ou financeiras, as crises geram mais e mais migrações e refugiados. O papel de organizações internacionais as mais diversas é depreciado ou mesmo contestado, o que se soma às suas limitações de meios e, portanto, de resposta.
O tempo parece ser mais de egoísmos do que de altruísmos, de xenofobias do que de aberturas inclusivas. Isto, mesmo nas economias mais ricas e com sinais de crescimento e emprego...
Estamos a viver e vamos viver, nos próximos anos, uma fase histórica mais depressa defensiva do que solidária, como tem, insistentemente, evocado o Papa Francisco.
Entre nós, ultrapassada a pressão mais instante da crise, e como que por temor antecipado de ambientes externos mais complicados, com eventuais reflexos internos, o último trimestre de 2018 fez avultar a sensação de corrida contra o tempo, em busca de metas antes ainda do período eleitoral que se prolongará praticamente por todo o ano de 2019.
Isso, e o despontar de novos desafios suscitou meses mais intensos de debate coletivo, envolvendo a elaboração do Orçamento para 2019 e o próprio clima pré-eleitoral, muito cedo esboçado.
Estamos apenas a cinco meses da primeira de várias eleições importantes para o nosso horizonte até 2024
No fundo, neste Natal, estamos apenas a cinco meses da primeira de várias eleições importantes para o nosso horizonte até 2023-2024.
Ao mesmo tempo, há setores sociais aliviados por reajustamentos pessoais e funcionais e outros que esperaram mais ou esperam mais, para compensar adiamentos do passado.
E, melhorando embora a expressão dos que se encontram condenados à pobreza ou seu risco, continuamos a ter quase um quinto de portugueses em tais situações, e desigualdades agravadas pela crise resistem em tantos casos.
Este Natal é feito de sentimentos mistos. Alívio para uns, luta para outros, preocupação para todos
Em suma, sendo um Natal menos pesado do que outros que já conhecemos, e há não muitos anos, este é feito de sentimentos mistos. Alívio para uns, luta por expectativas acalentadas para outros, preocupação para todos com o que vai chegando de fora de antevisões dos tempos que se avizinham.
Que esses sentimentos mistos nos não façam perder nem a coesão nacional nem a esperança, nem a proverbial sabedoria que nos leva a saber separar o essencial do que o não é - é o meu voto de Natal.
Até porque em coesão, com esperança e com sabedoria seremos capazes de construir melhores Natais no futuro sem perdermos o que alcançámos, e com que sacrifícios, naqueles muitos outros Natais que fizeram a nossa História antiga e recente.
Presidente da República Portuguesa