Prometiam parar o país, mas era preciso mais. Os protestos dos "coletes amarelos", inspirados pelo movimento que rebentou por toda a França, tiveram fraca adesão em Portugal.
Ainda assim, os parcos manifestantes que, esta sexta-feira, se concentraram em várias cidades, envergando cartazes e bandeiras nacionais, provocaram condicionamentos na circulação automóvel e alguns momentos de tensão com a Polícia, sem grandes confrontos a registar. No total, a PSP identificou 24 pessoas e deteve quatro manifestantes, de acordo com o balanço oficial feito sexta-feira à noite.
Porto
Cerca de 100 manifestantes foram-se concentrando, desde as 7.30 horas, junto ao Nó de Francos, na zona da Boavista, onde o trânsito esteve condicionado, tendo chegado a ser desviado pela PSP. Naquela zona de acesso à cidade, as pessoas que se juntaram ao protesto distribuíram panfletos aos automobilistas, que nem sempre encararam bem os condicionamentos da circulação, com um condutor a tentar agredir um manifestante. Os "coletes" marcharam até à Avenida dos Aliados, onde, escoltados pela Polícia, chegaram pelas 12.30 horas, acabando por desmobilizar meia hora depois.
Fonte da Direção Nacional da PSP informou que foram identificados, durante a manhã, oito manifestantes, por "apresentarem tarjas ofensivas e demonstrarem uma postura agressiva", acrescentando que um dos elementos foi levado para a esquadra, para verificação, por vestir um colete à prova de bala.
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Braga
Em Braga, todas as entradas do norte da cidade, na rotunda das Infias, um dos principais acessos à cidade, sobretudo para quem vem da zona sudeste, Vila Verde e Amares, foram bloqueadas por cerca de 150 "coletes amarelos" desde as 6 horas, tendo-se registado algumas altercações com automobilistas que tentavam passar, mas sem gravidade. Segundo relatos da agência Lusa no local, alguns manifestantes deram pontapés e atiraram garrafas a viaturas que tentaram furar o bloqueio. Segundo um comunicado da Direção Nacional da PSP, o único corte legal de estrada, e que estava permitido, era precisamente o do nó de Infias.
A Polícia acabou por desviar o trânsito antes da zona bloqueada pelos manifestantes e, às 12.20 horas, já era possível utilizar os acessos para sair da cidade, mantendo-se as entradas cortadas. O corte estendeu-se à Variante à cidade, a que vem da saída da A3 (Porto-Braga) e que é a principal circular urbana de Braga.
A manifestação terminou pelas 13.20 horas com desacatos e confrontos físicos entre alguns manifestantes, no fim de uma reunião entre os responsáveis pela organização da iniciativa e o presidente da Câmara, Ricardo Rio.
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Lisboa
A concentração de cerca de 100 manifestantes em Lisboa, na zona do Marquês de Pombal, foi marcada, durante a manhã, por alguns momentos de tensão entre os "coletes amarelos" e a PSP, com esta força policial a deter três manifestantes por "desobediência e resistência à autoridade". Cerca das 10.30 horas, o grupo furou o cordão policial que delimitava a área do protesto e sentou-se no chão.
Nos acessos a Lisboa, ao início da manhã, a A8 registou três quilómetros de fila, segundo fonte da Autoestradas do Atlântico, mas o trânsito acabou por fluir com normalidade. Nas pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, no IC19 e nas portagens de Alverca da A1, a circulação fez-se sem impacto do protesto ou mesmo de uma forma mais rápida do que o habitual num dia útil de manhã, constatou o JN.
Os manifestantes pretendiam marchar até à Assembleia da República, mas ao início da tarde ainda havia incertezas quanto à continuidade do protesto, que passou do Marquês de Pombal para a rua Braamcamp.
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Coimbra
Cerca de 60 manifestantes condicionaram o trânsito na cidade de Coimbra, principalmente depois das 10 horas, mas sempre controlados pela PSP. No começo do protesto, foram identificados quatro participantes na manifestação. Os "coletes amarelos" deixaram a rotunda da Casa do Sal, onde se tinham concentrado a partir das 7 horas, e rumaram até à rotunda da estação de Coimbra B e do terminal rodoviário, na Avenida Fernão de Magalhães. À semelhança do que aconteceu noutras cidades do país, passar continuamente nas passadeiras foi a estratégia usada para parar o trânsito, mas a intervenção da Polícia inibiu os "coletes".
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Aveiro
Os cerca de 60 manifestantes que participaram no protesto dos "coletes amarelos" em Aveiro desmobilizaram cerca das 13 horas com a promessa de realização de novas ações "em breve". No final da manifestação, um dos elementos do grupo reuniu numa lista os nomes e contactos dos participantes para combinar iniciativas futuras.
A manifestação começou cerca das 7 horas na Estrada Nacional 109, junto ao nó de acesso à Autoestrada A25, em Esgueira, com a presença de cerca de 20 elementos, a que se chegaram a somar outros 30. Pelas 9 horas, os manifestantes cortaram a Nacional, mas a PSP agiu imediatamente, conseguindo desbloquear a estrada. Pouco depois, os "coletes amarelos", que, empunhando cartazes, reivindicavam o aumento do salário mínimo para mil euros e a redução de impostos, voltaram a fazer dois novos cortes, com o mesmo resultado.
A meio da manhã, os manifestantes rumaram em marcha lenta até à rotunda da Policlínica, onde se mantiveram até ao final da manhã, ocupando temporariamente as passadeiras de peões para dificultar a circulação automóvel. O rebentamento de alguns petardos na zona foi o único incidente registado pela PSP, que mobilizou para o local mais de 20 agentes.
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Faro
Em Faro, a concentração de cerca de 100 manifestantes, junto à entrada da cidade, causou pequenos atrasos no acesso à capital algarvia.
Os manifestantes começaram a chegar a uma das principais rotundas de acesso à cidade, na Estrada Nacional 125, cerca das 7 horas, e uma hora depois contabilizava-se meia centena de pessoas no local, número que duplicou ao longo da manhã, sem causar incidentes.
Perante a tentativa dos agentes da PSP em contrariar o atravessamento contínuo das passadeiras, os participantes faziam um movimento de "vai e vem", envergando cartazes onde se podia ler "Combustível mais baixo", "Aumento do salário mínimo", "IVA mais baixo" ou"Por um Algarve livre de portagens".
Tendo como pano de fundo o hino nacional e música de intervenção, os participantes tentavam incentivar os automobilistas a apitarem, enquanto gritavam palavras de ordem como "Vai-te embora Costa", "Pelo fim das Parcerias Público-Privadas" ou "Pelo fim das subvenções vitalícias".
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Viseu
Também em Viseu, na Praça da República, cerca de três a quatro dezenas de manifestantes - que foram chegando a "conta-gotas" desde as 7 horas - condicionaram o trânsito, atravessando continuamente as passadeiras, atuação que a PSP foi revertendo.
Hugo Moreira, porta-voz do protesto local, considerou ao JN, cerca das 8 horas, ser "é normal" estar pouca gente. "Há pessoas que devem estar a chegar de Lamego e demoram mais tempo a chegar, mas no final do dia esperamos entre 200 a 300 pessoas", afirmou. A expectativa saiu gorada, uma vez que naquela zona da cidade, conhecida por Rossio, os manifestantes eram cerca de dez, às 15.30 horas.
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Leiria
Em Leiria, perto de uma centena de manifestantes do protesto condicionou o trânsito numa rotunda junto ao Estádio Municipal da cidade, onde a circulação de e para o IC 2 chegou a ser cortada pela Polícia. O protesto foi um jogo do gato e do rato entre "coletes" e agentes da autoridade. Assim que alguém de propunha a bloquear uma determinada estrada, a PSP antecipava-se e deslocava-se para o local em causa, evitando o corte sobretudo de rotundas. Por outro lado, observou-se uma grande dificuldade de entendimento entre os "coletes amarelos", uma vez que enquanto uns sugeriam cortar um determinado acesso, outros defendiam outras estratégias.
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Guarda
Na Guarda, duas dezenas de pessoas aderiram à iniciativa, junto da rotunda do G, um dos principais acessos à cidade, e em frente da Câmara Municipal, sem causarem problemas no trânsito.
Durante o protesto, os manifestantes empunharam duas bandeiras de Portugal e cartazes com mensagens como "Políticos = gatunos, corruptos, chulos", "A23/A25 nem uma borla. Deputados é só subsídios", "Chega de impostos para manter pançudos", "Basta de corrupção" e "Baixar os impostos".
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Santarém e Setúbal
No distrito de Santarém, a capital de distrito, Abrantes e Tomar somaram 26 pessoas, segundo os dados da agência Lusa, enquanto em Setúbal uma dezena de "coletes" esteve concentrada na rotunda dos Golfinhos. Em vários dos pontos de protesto, o número de polícias presentes foi superior ao de manifestantes.
Viana do Castelo
Cerca das 7.30 horas, havia nove pessoas concentradas na Praça da República, em Viana do Castelo, e o clima era de frustração. César Lima, 38 anos, trabalhador da construção civil, foi o primeiro a chegar ao local da concentração. Saiu às 5 horas de Ponte de Lima e chegou meia hora depois, antes da hora marcada. Encontrou uma praça deserta. "Zero, não estava nem um polícia", contou ao JN, pouco passava das 6.30 horas.
"Vim por causa do manifesto, mas não está ninguém. Revolta, isto revolta. É triste. O pessoal fala durante semanas pelo WhatsApp e depois ninguém aparece", comentou também Tiago Quintas, de 32 anos, vindo de Geraz do Lima.
"Está a chover, está frio, está-se bem na cama, ninguém quer fazer nada. É o país que temos", revoltou-se. E continuou: "Nas redes sociais tudo fala. Alguns até metem bombas e depois é isto. Não vem ninguém. É triste. É por isso que não vamos para a frente."
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Vila Real
Em Vila Real, o protesto que prometia parar o distrito, nomeadamente o acesso à região através do Túnel do Marão, não teve adesão. Às 7 horas, a Praça do Município estava vazia e o trânsito fluía normalmente no Túnel. A GNR encontra-se no local por precaução.
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Beja
Em Beja, a Praça da República estava deserta. O único "sinal de vida" eram as figuras do Presépio de Natal da Igreja da Misericórdia. E assim continuou durante o dia.
Beja
Foto: Teixeira Correia/JN
Os protestos dos "coletes amarelos" em Portugal foram convocados por vários grupos através das redes sociais, com o Twitter a desempenhar um papel importante na organização e divulgação movimento. Um dos grupos, o "Movimento Coletes Amarelos Portugal", propôs, num manifesto divulgado na quarta-feira, uma redução de impostos na eletricidade, com incidência nas taxas de audiovisual e emissão de dióxido de carbono, uma diminuição do IVA e do IRC para as micro e pequenas empresas, bem como o fim do imposto sobre produtos petrolíferos e redução para metade do IVA sobre combustíveis.
Os "coletes amarelos" portugueses inspiraram-se nos movimentos contestatários das últimas semanas em França, que acabaram por ver resposta para algumas das reivindicações. Depois de um primeiro ato pacífico e um segundo violento, os franceses viram cumpridos o primeiro objetivo: a anulação do aumento da taxa sobre o gasóleo, que iria prejudicar o transporte rural e o aquecimento de lares. Ao terceiro protesto seguiu-se um quarto e um rol de exigências. A violência dobrou o Governo e Macron, que consagrou mais 100 euros para o salário mínimo, o não aumento do imposto nas pensões baixas e a isenção fiscal das horas extra e dos prémios anuais.