Os adolescentes portugueses não gostam da escola, mas não deixam de ser felizes. Este é a principal conclusão do "Health Behaviour in School-aged Children (HBSC)", um inquérito hoje apresentado e que foi realizado a jovens estudantes do 6.º, 8.º e 10.º anos, feito em 44 países e que envolveu 6997 adolescentes portugueses oriundos de 42 agrupamentos escolares.
Realizada em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta é a maior investigação feita com adolescentes em todo o Mundo e pretende saber aspetos sobre a vida dos jovens no que diz respeito à saúde mental e bem estar, à família, à escola, à prática desportiva, entre outros aspetos.
Em Portugal, 30% dos alunos inquiridos diz que não gosta da escola, 58, 3% refere que o pior é mesmo a comida da cantina e 35% não tolera as aulas. A matéria é "demasiada" para 87% dos inquiridos e a avaliação é um "stresse" para 77%. "Fazemos este estudo em Portugal desde 1998, os pais destes 7000 jovens que responderam ao questionário podem muito bem ter sido os primeiros portugueses a participar no estudo.
PROBLEMAS DE SEMPRE
Os jovens agora inquiridos podem ser filhos dos que participaram e eram adolescentes há 20 anos", disse, ao JN, Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do estudo. Em duas décadas, há problemas que se mantêm: "A continuidade do afastamento dos adolescentes da escola porque ela os stressa e os preocupa. Sentem que não são bem sucedidos e que os pais se focam demasiado nas avaliações", frisou a investigadora.
Apesar da relação com a escola, 81,7% dos adolescentes considera-se feliz, mas "apresenta vários sintomas de mal estar psicológico e dizem-se exaustos e 39% dorme menos de oito horas por dia". Em casa, as discussões com a família são sobretudo (63,2%) por causa do uso de plataformas de jogos e redes sociais. Mais de 60% dos jovens contacta online diariamente com os amigos. Duas ou mais horas por dia são passadas a utilizar telemóveis ou computadores, no Instagram (40,5%), no Youtube (39,25%) e a trocar mensagens no WhatsApp (35,5%).
Os 7000 mil jovens que participaram no estudo são, aparentemente, saudáveis: 93,7% não fuma e 91% nunca bebe cerveja e 89,4% nunca consumiu "bebidas destiladas". Dos que bebem, apenas 5% já se embriagou pelo menos uma vez no último mês. Sobre a sexualidade, as resposta são claras: 88,5% diz ainda não ter tudo relações sexuais. Dos que já tiveram, 17% associa-se a experiência ao consumo de álcool ou droga. Sobre estupefacientes, 4,8% já experimentou canábis e 3,6% já consumiu benzinas/solventes. Embora sem números, o estudo refere que as substâncias psicotrópicas mais desconhecidas são o LSD e o Ecstasy.
Os adolescentes são pacíficos: 91,8% nunca andou com armas, 72,6% nunca esteve envolvidos em lutas e 90% refere que nunca provocou bullying.
Seis estudos em 20 anos
Os inquéritos aos adolescentes nacionais realizaram-se em 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. Participaram no estudo alunos de 387 turmas de escolas publicas, havendo um estudo complementar nos Açores. A média de idades dos jovens foi de 13,73
Participação social
Ao longo dos vários estudos, nota-se a pouca vontade de participar em atividades comunitárias ou de solidariedade. 67% dos jovens dizem que não é provável participarem num grupo de jovens e 46% acham improvável falar com os pais sobre política ou questões sociais.
85% Os números nem sempre foram tão otimistas mas, em 2018, 85,5% dos pais e 85,1% das mães têm emprego levando a uma divisão nas tarefas e também no lazer partilhado.
11% Exatamente 11% dos jovens inquiridos dizem que vão "para a escola ou para a cama com fome por não haver comida suficiente em casa". E 12% referiram estar a fazer dieta.