Corpo da vítima encontrado após homicida contar a familiares o que fizera. Tentou matar-se na cela.
Sandra Santos, 41 anos, estaria a fazer o jantar quando, na sexta-feira à noite, o marido a matou à facada na moradia onde o casal residia com os dois filhos menores, há cerca de dois anos, na Azambuja.
O corpo foi encontrado em casa perto da meia-noite, depois do suspeito, já detido, ter confessado o crime a familiares. Está preso no Hospital-Prisão de Caxias, após ter tentado suicidar-se na cela, confirmou ao JN fonte oficial da GNR.
Sandra Santos é a 25.ª mulher morta este ano em contexto de violência conjugal. Na rua onde vivia, nunca ninguém se apercebeu, porém, de nada de estranho.
"Tinham uma vida belíssima. Uma casa belíssima, dois bons carros", desabafava ontem ao final da tarde, ainda incrédulo, António Silvante, vizinho da família desde que esta se mudou, há "no máximo dois anos", regressada da Alemanha, onde estivera emigrada.
UMA FAMÍLIA NORMAL
Sandra Santos Idade: 41 anos Naturalidade: Viseu
Ela, doméstica, natural de Viseu, era uma "joia de pessoa"; ele, 40 anos, engenheiro informático, era visto com frequência no pequeno bairro de vivendas a passear de bicicleta com os dois filhos do casal, um rapaz e uma rapariga de 10 e 12 anos . "A minha neta ia brincar lá a casa. E a menina vinha brincar a nossa casa", acrescenta o idoso.
Mas, "na terça ou quarta-feira", o comportamento do alegado agressor terá mudado. "Começou a dizer que ela o estava a tentar matar, que estava a tentar envenená-lo", recorda ao JN António Silvante. Dias depois mataria a mulher quando esta cozinhava o jantar.
"Ainda encontraram batatas e cebolas em cima da bancada", conta António Silvante, que, quando tudo ocorreu, se encontrava em casa, situada paredes-meias com a de Sandra Santos.
"Estive a ver televisão até à meia-noite e tal e não me apercebi de nada. A minha filha e o meu genro é que deram pelas luzes dos bombeiros e da GNR. Só soube o que se tinha passado hoje [ontem] de manhã", assegura, acrescentando que, nos últimos dois anos, não se apercebeu da existência de qualquer discussão entre o casal. "Se houvesse gritos, eu ouvia", sublinha.
Ontem à tarde, era, de resto, o silêncio que imperava no bairro onde muitos saem de manhã e só voltam à noite. "Tinham vindo para aqui há pouco tempo. Só dizíamos bom dia, boa tarde", reconheceu uma vizinha.
Já a família da vítima e do agressor optou por não prestar declarações ao JN.
"É um sítio muito sossegadinho. Ninguém iria imaginar uma coisa destas aqui", remata António Silvante.