Eduardo Jorge, tetraplégico, propõe-se ficar quatro dias dentro de estrutura frágil junto ao Parlamento para alertar para o atraso dos prometidos apoios.
"Não sinto o meu corpo, não sei como vai ser". Eram 15 horas de sábado quando Eduardo Jorge, 56 anos, tetraplégico, foi enfiado numa cama, onde prevê ficar quatro dias seguidos, alimentado exclusivamente a água. A pequena estrutura que o aloja, colocada em frente à Assembleia da República, em Lisboa, tem grades de aço e um teto de plástico fino, insuficientes para o proteger do frio. "Estou aqui para que saibam as dificuldades que passamos". Protesta contra o atraso no arranque dos prometidos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI) e o modelo adotado, sendo a terceira vez que se envolve em lutas pelas pessoas com deficiência.
"Está preparado para as noites frias?" Faz uma pausa antes de responder afirmativamente: "Estou. Trago pijama por baixo das calças". Decidido, conta que não pediu aos amigos para ficarem com ele de noite. Se alguém ficar, não o impede.
Lembra que o prometido projeto de "Vida independente" para as pessoas com deficiência - baseado na ideia de um apoio de um assistente, que não obrigue estas pessoas a abandonar a residência - continua no papel. "Estou desiludido".
Depois de um apelo com mais de cinco anos, foi publicado, em outubro de 2017, o decreto-lei 129/2017, que define a criação de um modelo de apoio à vida independente. Há três dias, o Governo fez saber que os primeiros contratos para a criação destes centros estão prestes a ser assinados. "Vieram falar deles porque estava marcado este protesto".
Primeiros 20 centros
Na última quinta-feira, a secretária de Estado para a inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, disse que os primeiros 21 contratos para CAVI serão assinados na próxima semana. Foram validados 30, nesta fase, do Norte, Centro e Alentejo.
Eduardo Jorge tem casa própria, onde passa os fins de semana, mas não vive lá diariamente por precisar de apoio constante. Reside, "obrigado", sublinha, num lar de idosos na Carregueira, Chamusca. Por ser institucionalizado, não se pode candidatar aos novos centros de apoio.
Entre as limitações do modelo adotado, o assistente social (profissão que exerce) critica o recurso às Instituições Privadas de Solidariedade Social. "Vão ser as IPSS a dar esse apoio com todos os vícios que já possuem? Será mais uma esmola, uma solidariedadezinha", diz. "Este projeto devia ter outro conceito, tratar as pessoas como capazes".