A Coreia do Norte tem mísseis balísticos com capacidade nuclear em pelo menos 13 locais secretos, segundo a investigação de um centro de estudos norte-americano divulgada na segunda-feira.
Os investigadores do Center for Strategic and International Studies (CSIS), com sede em Washington, localizaram 13 locais com mísseis não declarados pelo governo, estimando que este número possa chegar aos 20.
"Tudo indica que as bases não estão paradas", explicou Victor Cha, responsável do programa norte-coreano do CSIS, citado pelo "New York Times".
Victor Cha adiantou que o "trabalho continua" e que existe um "medo generalizado" de que o presidente norte-americano, Donald Trump, "aceite um mau acordo" com a Coreia do Norte. "Revelam-nos um único local de testes, desmantelam alguns outros, e em troca, obtêm um acordo de paz", alertou.
Segundo os investigadores do CSIS, as bases de mísseis estão disseminadas pelo país em túneis nas regiões montanhosas.
Não há realmente informações novas
As infraestruturas foram concebidas de forma a permitirem uma saída rápida de lançadores de mísseis e abrigam mísseis intercontinentais (ICBM).
Os mísseis de porte médio, capazes, segundo a imprensa, de atingir o Japão e a Coreia do Sul, foram deslocados para uma área de 90 a 150 quilómetros a norte da zona desmilitarizada que divide a península coreana.
Os mísseis de curto alcance foram instalados numa cintura tática entre 40 a 90 quilómetros da zona desmilitarizada.
O estudo cita fontes dos serviços de informações de vários países, de dissidentes norte-coreanos, imagens de satélite e dados acessíveis online.
Os dados do estudo são, no entanto, desvalorizados por alguns analistas, nomeadamente da Coreia do Sul, sublinhando que a existência destas instalações é conhecida há anos e que Pyongyang nunca propôs desmantelá-las.
A Coreia do Norte nunca prometeu acabar com mísseis de curto alcance ou fechar as bases
"Não há realmente informações novas", disse Daniel Pinston, professor da Universidade Troy, em Seul, adiantando que os locais descritos no estudo são "conhecidos há pelo menos 20 anos".
Por seu lado, Vipin Narang, professor de ciência política do Massachussets Institute of Tecnology (MIT), escreveu no Twitter:"Kim [Jong-un] ordenou literalmente a produção em massa de mísseis balísticos em 2018. Jamais propôs parar a produção e ainda menos renunciar a ela. Não há um acordo para violar", disse, numa alusão às conversações entre Donald Trump e Kim Jong-un.
O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, adiantou que os serviços de informações sul-coreanos e norte-americanos conheciam os dados do relatório, adiantando que a base de Sakkanmol, citada no documento, "nada tem a ver com mísseis intercontinentais".
"A Coreia do Norte nunca prometeu acabar com mísseis de curto alcance ou fechar as bases", disse à imprensa o porta-voz do chefe de Estado sul-coreano, Kim Eui-Kyeom.
A Coreia do Sul mantém um diálogo político com a Coreia do Norte e este relatório ilustra a necessidade de continuar a discutir com Pyongyang a eliminação de ameaças militares, prosseguiu Kim Eui-Kyeom.
Para o porta-voz sul-coreano, a divulgação do relatório poderá "bloquear" o diálogo entre Washington e Pyongyang.
Donald Trump e Kim Jong-un esperam encontrar-se proximamente, mas um encontro entre o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, e o homem de confiança de Kim Jong-un, Kim Yong Chol, previsto para a semana passada em Nova Iorque, foi adiado.
O presidente norte-americano acredita que a "cimeira histórica" de junho com Kim Jong-un abriu caminho à desnuclearização.
Depois da cimeira, a Coreia do Norte suspendeu os ensaios balísticos e nucleares, desmantelando um local de testes, e prometeu, caso os Estados Unidos concordassem em fazer concessões, desmantelar o seu principal complexo nuclear.