Um tumor calcificado, no qual se detetou a presença de dentes, foi descoberto no cemitério gótico do Largo do Carmo, em Lisboa, um achado raro que se junta a apenas mais três casos conhecidos mundialmente.
O tumor, presente na zona pélvica de um esqueleto, tem cerca de 3,8 centímetros de comprimento e 4,3 centímetros de diâmetro, numa massa "irregular e desorganizada", onde é possível constatar a presença de cinco dentes malformados na sua superfície, refere o estudo recentemente publicado no "International Journal of Paleonpathology", liderado pela investigadora da Universidade de Coimbra, Sofia Wasterlain.
Este tipo de tumor é denominado de teratoma e foi encontrado nas escavações arqueológicas realizadas no cemitério gótico que existia perto do Convento e da Igreja do Carmo, cuja utilização decorreu entre "o século XV e o século XVIII", tendo sido interrompida pelo terramoto de 1755, explicou a responsável pelo estudo.
As escavações arrancaram em 2010/2011, mas só na segunda campanha, de 2013 a 2015, foi possível analisar e estudar o caso.
A mulher onde foi encontrado o tumor, contou Wasterlain, deveria ter mais de 45 anos, não havendo "qualquer sinal que evidencia" de que este tumor fosse maligno.
A maioria dos teratomas são benignos, sendo que, face às suas dimensões, podem causar "algum tipo de problemas e pressionar alguns órgãos", elucidou, sublinhando que também esse tipo de lesões não foi encontrado.
Apesar de não se saber o motivo da morte da pessoa, o cal encontrado no esqueleto levanta algumas possibilidades de a mulher ter morrido por uma "doença infetocontagiosa", visto que era comum ser atirado cal para os corpos quando essa era a causa de morte.
Na literatura paleontológica, só são conhecidos mais três casos de teratomas, sendo que este tipo de tumor "é relativamente invulgar", sendo caracterizado por "múltiplos tipos de tecido", podendo ser formados dentes ou cabelo.
"Os dentes saltaram logo à vista", sublinha a investigadora do departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra.
Para a antropóloga, especializada em antropologia biológica, "é importante fazer estes diagnósticos diferenciais" para se complementarem as fontes históricas e "a história das doenças".
"Há uma ideia generalizada de que o cancro ou os tumores são produto da nossa vida ocidental e, na verdade, acabamos por encontrar casos de há muitos séculos. É importante documentar estes casos" para se perceber "como é que as coisas aconteciam no passado e não apenas hoje", realçou a investigadora.
O estudo foi levado a cabo pela Universidade de Coimbra, Universidade de Lisboa e a Câmara de Lisboa.